Maria Francisca - Blog da Maria Francisca Lacerda, escritora e poeta. - page 2

 28 de maio de 2023 

 

Lembram de um quadro nos programas da antiga TV Cultura, que começava com esta frase “Senta, que lá vem história”?

Pois é. Hoje, eu que digo: Senta, que lá vem história!

Dias atrás, estava eu lá na Praia do Libanês, numa árvore amiga, onde faço meus alongamentos. Como sempre, fico escutando conversas alheias, fingindo que nem estou ali.

Três homens conversavam. Um deles, que depois vi que era vendedor de picolé que anda por ali sempre, disse:  Eu estava sentado no banco, uma madame passou, olhou pra mim, eu sorri e ela disse: Não adianta pedir nada, nem comida, porque eu também estou com fome e correndo pra casa.

Ele teria respondido: Então, vamos dividir nossa fome e nossa marmita. Ela sorriu, sentou-se a meu lado. Eu tinha um prato de plástico, coloquei a comida pra ela, e comi na marmita.

Os outros dois homens admiraram-se: O quê? A madame almoçou com você? Então, não era madame. Ele: Estava toda chique, ora! E numa pose… Parecia uma rainha. Mas quando eu conto, ninguém acredita.

Continuei meu alongamento, vi que os dois homens se foram, e o vendedor de picolé veio para perto de mim e começou a conversar comigo.

Fico por aqui todo o dia, com meus picolés e procurando um bom papo. Quando me perguntam como pagar, eu respondo: Pode ser em dinheiro ou PicPay. Pix, não, porque minha mulher tem conta conjunta comigo e toma meu dinheiro. Só que eu nem tenho mulher. Sou viúvo. E deu uma risada.

Quando falo certas coisas, ninguém acredita. Nem acreditam que moro na Praia da Costa… Dizem, zombando: na Praia da Costa? Mora bem, hein? Só que eu não conto que moro aqui, no chique, mas compro tudo na Glória. Com o dinheiro de um tomate aqui, compro seis na Glória…

Eu dei uma risada.

Ele disse: Só de ver esse seu sorriso, valeu a pena vir para o calçadão, hoje. Vejo que não vou vender um picolé.

Nada? Vai embora sem vender nada?

Ele disse: Não vendo picolé, dona. Vendo sorrisos.

E foi-se mancando (só nessa hora vi que mancava), e empurrando seu carrinho de picolé.

Eu terminei meu exercício e fui pra casa, pensando naquele vendedor que parecia nada ter de material, mas tinha tudo: era de bem com a vida.

E nós reclamamos. Que lição!

Maria Francisca – maio de 2023.

 

 28 de abril de 2023 

Que a vida é tão breve e o tempo não espera ninguém

(Padre Fábio de Melo)

Esses dias, assisti a uma discussão no calçadão da praia.

Era um casal de idosos. Um deles tentava amarrar alguma coisa e o outro interferindo: Não é assim, é assado. A mulher falou alto: Deixe-me fazer do meu jeito. O homem: Não grita! Ela: Quem está gritando é você…

Não resisti e comecei a rir perto deles. Eles riram comigo e ela disse: 51 anos de casados dá nisso, né? Eu falei: Estou um pouquinho acima: 52 anos. Ela:  Às vezes, a gente fica de saco cheio, não é? Eu: Sim, e eles também… Rimos os três e continuei meu trajeto.

Depois desse episódio, pensei: Como é difícil conviver! E se não temos ninguém, nós não aguentamos a solidão, porque o ser humano é gregário.

Não sei se redes sociais, a falta de espiritualidade (que nada tem a ver com religião), levam a isso, mas, cada vez mais, vemos brigas, ameaças de quem é de outra linha, seja política, seja religiosa… Marido, mulher, cada um de um lado, brigando.

No livro “O Banquete” de Platão, consta que Aristófanes fala, numa das reuniões, de um interessante mito sobre a origem do homem. Segundo ele, na origem, o homem era dotado de órgãos duplos. Mas esses órgãos eram muito ousados e resolveram atacar o Olimpo. Os deuses, resolveram vingar-se, e os homens foram separados em duas metades. Desde então, os homens vivem à procura da metade que perderam. Quando a encontram, encontram a felicidade.

Hoje, as pessoas brincam de procurar a cara-metade. E, muitas vezes a encontram e não a reconhecem. Por isso, acabam perdendo a chance de viverem felizes.

Já sabemos, como teria dito Bauman, que tudo é líquido, até o amor. Se tudo é líquido, não há relacionamento que perdure.  A intolerância vigora em todos os sentidos. Melhor quando não descamba para a violência e para o abuso, como vemos tantos, nos casamentos, como nas amizades, e nos demais tipos de convivência.

Natalia Timerman, hoje, 02/04/2023, na Universa, sobre as manifestações raivosas no twitter: “Mas ah. Como é bom viver acreditando que quem erra são sempre os outros, só os outros, e que por detrás de um perfil não há suor nem lágrimas. E mesmo se houver: pelo menos não são os seus…. “

O inferno não poderá continuar sendo apenas os outros. Como disse Boff, hoje, “(…) somos seres portadores da dimensão de amor e de ódio, de luz e de sombra, da pulsão de vida e da pulsão de morte, do sim-bólico (que une) e do dia-bólico(que desune). Somos a unidade dialética destas contradições”.

Da mesma forma respondi à senhora no calçadão, não só nós ficamos cansados. Todos ficam.  Ninguém pode sentir o que o outro está sentindo, por mais que tenha afinidade com essa pessoa e por mais alto que seja o grau de empatia por ela.

Um belo exemplo temos no livro utópico de Huxley, A Ilha, que já citei em crônica anterior. Na terra imaginária de Pala, a professora faz uma experiência com as crianças. Manda que cada uma belisque a outra. E haja ais e uis…Aí, ela pergunta: Vocês podem sentir o que cada colega beliscado está sentindo?

Por isso, que sejamos, pelo menos tolerantes, como forma de mantermos nossa sanidade e nossa convivência harmoniosa com quem quer que seja. E quando encontramos nossa metade perdida, tratemos de cuidar dela, para a felicidade das duas metades.

Como disse o Padre Zezinho, “Chamam a isso de utopia. Eu a isso chamo paz!

Então, dialogue! Não grite!

 

Maria Francisca – Início de dezembro de 2022.

 

 

 22 de abril de 2023 

 

Hoje, li um artigo de Júlio Pompeu, no site Terapia Política.

Dois empresários num bar. Um deles disse:

“-Pode chamar o sommelier?

-Eu sou o sommelier, senhor.

Não escondeu o olhar de surpresa. Olhou de alto a baixo, como quem avalia a carcaça da mercadoria em busca de defeitos e qualidades para avaliar se vale o preço. Entre indignação e resignação, concentrou-se na carta de vinhos.”

Realmente, o “Vale quanto pesa” ainda persiste. E não é só gente rica, empresário, que trata as pessoas assim, não.

Comigo já aconteceu esse tipo de coisas diversas vezes.

Um senhor que veio à minha casa, consertar o fogão. Atendi-o, mandei que entrasse, mostrei o fogão. Ele ficou por ali, olhou, olhou, depois, virou-se para mim e perguntou: Quem é a responsável? O senhor quer saber a dona da casa? Se for essa a pergunta, sou eu.

Ele fez tal qual o empresário. Olhou-me de cima a baixo e disse, com desdém: Você? Eu não me fiz de rogada. O senhor deve estar vendo novela demais. Só na televisão que as donas de casa ficam arrumadas, maquiadas e de sapato alto, viu, senhor? Ele abaixou a cabeça e não falou mais nada. Deu o orçamento, fez o trabalho, paguei e ele se foi.

Outra vez, na Academia de ginástica, um daqueles estagiários me perguntou, já sabendo a resposta, mas, de um jeito estranho: Francisca, você é juíza? Sim, por quê? Não parece.

Eu disse: Juiz tem cara diferente? Traz escrito na testa, ou eu teria que chegar aqui e nada falar com ninguém nem dar bom dia ou boa tarde? É porque eu brinco, converso? Estou errada? Por isso não pareço uma juíza?  Menino, você ainda precisa viver muito.

Falei e saí de perto dele.

Numa outra vez (e houve muitas mais) eu estava no TRT, acompanhando alunos de escolas. Eu ficava de pé. Combinava com eles que, durante a sessão do Pleno, eles se manifestassem apenas levantando o braço, que eu iria até eles, para explicar as dúvidas naquele momento. Então, via um braço levantado, ia perto, abaixava e conversava baixinho com o aluno. Alguns universitários, com é o costume, ali estavam, cumprindo uma parte do estágio.

Um deles me chamou, apontou um papel com suas anotações da sessão e me disse: Pegue a assinatura pra mim. Eu, calmamente, disse a ele. Quem pode fazer isso pra você é aquele rapaz que está na sessão. Ele com aquela prepotência que acomete alguns estudantes de Direito, que se sentem muito importantes, disse: E você, faz o quê, aqui?  Minha porção dia-bólica (como diz Boff) respondeu: Dê uma olhada ali na parede (onde estava minha foto) que você saberá. Os demais alunos riram e ele ficou muito sem graça.

Essas histórias repetem-se diariamente. E com pessoas diversas, em locais diversos. Sejam pessoalmente, sejam nas tais redes que de sociais nada têm.

Ainda mais, hoje, quando as “sensibilidades”, o ódio e as maldades estão à solta.

Muitos precisam tolerar olhares de desprezo, como o sommelier referido por Júlio Pompeu.

Comigo, não adianta olhar enviesado. Ainda tenho a minha respostinha na ponta da língua.

E os indefesos?

Maria Francisca – abril de 2023.

 

 

 16 de abril de 2023 

 

Por que será que questiono tanto?

Fico a me fazer essa pergunta de vez em quando. Tudo que vejo, questiono. Será que sempre tive cabeça de Juiz? Ou não seria de juiz e sim de policial?  Ou nem um nem outro? Juiz já iria recebendo as informações, as provas, analisando e julgando e eu não fico julgando. Policial questiona para um objetivo prático, descobrir algo que seja uma transgressão. Eu questiono para entender. Questiono a mim mesma. Isso está certo? Como é que isso funciona? Às vezes, só no pensamento. Outra hora, esse pensamento vaza, como hoje.

Pior é que as minhas leituras ainda me atiçam.  Por exemplo, “Amor pelas coisas imperfeitas”, do Monge Haemin Sunim.

A minha questão atual é sobre crianças em novelas.  Você dirá: Mas é novela… Aí é que está. Tudo pela arte?

Na atual novela das 9 (que não é das 9…), há uma criança, o Tonho. Essa criança sofreu uma perda. A mãe sumiu por um tempo. O pai levou-o para uma casa rica e o menino passou a viver num luxo incomparável e com um carinho do mesmo tamanho do luxo. A mãe apareceu, mas o pai não o deixou com a mãe.  O pai roubou do ricaço que iria ser seu sogro e mudou-se. Acabou aquele carinho que o menino recebia do ricaço. Agora, a mãe não é mais a mãe dele, em face de um DNA negativo. O pai é preso, a avó está noutro Estado e a criança acaba tendo que ir para um abrigo. Recebe a visita do ricaço e do professor amigo da família e fica a dizer: quero ir para minha casa… Cadê meu pai? Cadê minha mãe? Questões sem resposta.

Como é que fica a cabeça desse pequeno ator? Ele não está ali vivendo tudo como se fosse verdadeiro? Não estão ensinando a ele as expressões, os risos e os choros nas horas adequadas? Ele compreende que isso é uma arte? Uma brincadeira? Passa incólume por essas emoções?

Eu tenho visto alguns atores dizerem que, após acabar um trabalho em que se investiram de um personagem polêmico, como de uma pessoa má, têm que ficar um tempo sozinhos para se desvencilharem dessa ficção. Como é isso para uma criança?

Sem contar a frustração que já vi, em minhas leituras de jornais e revistas, sobre adolescentes ou adultos que, após trabalhar num personagem de muito sucesso, como criança, não conseguem, nem mesmo trabalho como ator, atriz. Porque o brilho conseguido gera uma expectativa, inclusive na família.

Será que o juiz que autoriza esse trabalho de uma criança analisa e acompanha essa situação? Não sei.

E assim fico a imaginar tudo que vejo. E não é pouca coisa esquisita que se vê, aonde se vá.

Por hoje, fica a questão: Tudo pela Arte?

Maia Francisca – abril de 2023.

 

 

 

 

 26 de março de 2023 

 

Mentiram-me.
Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente

A implosão da mentira (Affonso Romano de Sant’ana)

Eu vivo em estado flutuante.

Acolho uma coisa como verdade, daí a pouco, a verdade vira mentira. O que penso ser mentira, daí a pouco vira verdade.

Não há notícia de jornal, impresso ou virtual, em que se possa acreditar, sem a eterna pergunta: Será que é verdade? Não se pode crer sequer nos sites que pesquisam se uma notícia, um vídeo, são verdadeiros.

Hoje, estava ouvindo aquela música de Oswaldo Montenegro, A Lista.  Tem uma parte da letra que diz assim:  Quantas mentiras você condenava/ Quantas você teve que cometer. Sim, quem nunca mentiu?

Dirá: Exame de consciência nesta hora?  Por que não?

Até as mentirinhas antigas de nossas mães e avós para se livrarem de visitas indesejáveis. Vassoura atrás da porta que, muitas vezes, causaram saia justa, quando uma criança esperta dizia: Mãe, por que aquela vassoura está atrás da porta?  Até aquelas por necessidade mesmo, por caridade a uma pessoa com doença grave, ou para esconder algum pequeno erro próprio ou alheio.

Em questão processual, tem-se a falácia da verdade real.  Que verdade real que nada! Existe? Fatos são fatos, e a versão dos fatos depende do olhar e da interpretação de cada um. A verdade, ali, é apenas provável. O Juiz, coitado, tem que se contentar com a prova dos autos, que ele também vê e com os olhos que tem. Muitas pessoas pensam que o juiz tem bola de cristal. Quantas vezes já ouvi: Mas era mentira! E foi uma injustiça! Como saber? Prova testemunhal, então… E se a testemunha contou mentira, uma mentira tão bem contada que pareça verdade?

A insanidade tomou conta do mundo. E, para os desajuizados, nada mais irritante que o juízo, como diz Mr. Bahu, personagem de Aldous Huxley, em “A Ilha”. E nesse caso, “No país dos insanos, o homem perfeitamente integrado não se torna rei”. Da mesma forma, mostra José Saramago, em “Ensaio sobre a Cegueira” (que já citei em crônica anterior): Em terra de cego, quem tem olho não é rei.

Quando essa insanidade não prejudica a vida de alguém, tolera-se, mas o que se tem visto é a exposição indevida de pessoas, sujando a sua honra, sua dignidade. Ou quando se mente em processos, principalmente os criminais, empurrando um inocente para a cadeia, senão para a morte.

Saber o que é verdade está difícil, cada vez mais.

Segundo a parábola, atribuída a Jean-Léon Gérôme, escultor e pintor francês, a mentira, vestida de verdade, anda por aí, sem que ninguém a intercepte. E a verdade parece ter se escondido, com vergonha da nudez, mas talvez nós é que talvez tenhamos vergonha, ou medo, da nudez da verdade.

Na “Ilustrada” de março de 2013, Inácio Araújo, numa crítica ao filme A marca da maldade, de Orson Wells, diz que, a partir da disputa entre dois personagens Quinlan x Vargas, Welles lança a questão que atravessa toda a sua obra: onde está a verdade e, aliás, o que é ela? E complementa: “O mundo se abre a partir da dúvida sistemática lançada pelo incomparável Welles”

Mas quando Jesus se apresentou diante de Pilatos, por obra e graça dos “donos” do Templo, à pergunta do Governador, se Ele era rei, a resposta foi (segundo João-18,37): “Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que vim ao mundo. Todo o que é da verdade, ouve a minha voz”. Mas Jesus não respondeu à pergunta de Pilates sobre o que era a verdade.

Hans Kelsen (O que é Justiça?) disse que, cético, o Governador não esperava a resposta.

Se Jesus tivesse dito o que era a verdade, teria mudado algo? Não sei.

Afinal, como disse o juiz-poeta Francisco Barbosa, em Veritas: Busco verdade/Mas como sabê-la se todos dizem tê-la?/ Cada uma, dentre pares, nenhuma/ Melhor, então, manter a procura.

Há mentiras e Mentiras. Umas trazem consequências funestas. E, hoje, vivemos um tempo assim.

E seguimos flutuando…

Maria Francisca – março de 2023.

 18 de março de 2023 

Hipster? Eu, Hein?

Nunca gostei de pintar os cabelos. Um trabalhão! Mas não queria ficar de cabelos brancos. Só dizia que aos setenta anos, acabaria com essa chateação.

Alguns falavam, mais as mulheres, por que você não clareia seus cabelos?  Eu fazia uma brincadeira: Eu? Não quero ficar de uniforme. De uniforme, como é isso? Não dizem que as mulheres não envelhecem, ficam loiras?

Ríamos e a história acabava.

Só que cheguei aos setenta, passei dos setenta…e nada de deixar os cabelos brancos.

Um dia, acordei e decidi: vou deixar meus cabelos brancos. Fui deixando e gostando da experiência.

Fui a alguns eventos, tirei fotos, e fui me acostumando. De vez em quando, alguém me dizia: Ah! Entrando na onda…

Eu já andava aborrecida com esses comentários.

Hoje, li na “Folha” um artigo de Marcelo Viana, muito interessante sobre os hipsters: “Matemática explica o paradoxo ‘hipster”. Disse ele: (…) um certo número de inconformistas (hipsters), que rejeitam o padrão da maioria, frequentemente leva a que os inconformistas gradualmente sincronizem suas atitudes de tal forma que acabam adotando comportamentos idênticos, criando um novo tipo de conformismo”.

E contou um fato, mais ou menos assim:

Um homem que se considerava inconformista ameaçou processar a revista da “MIT Technology Review” acusando-a de ter usado como ilustração, sem autorização, uma foto roubada das suas redes sociais. A foto utilizada na publicação, entretanto, fora adquirida legalmente, e estava em seu estoque. Representava um hispter de barba, usando uma camisa estampada de flanela e um gorro de lã. Os dois homens e seus visuais eram idênticos! Mas não era ele, o revoltado.

Querendo ficar diferente, ficou igual.

Comigo estava ocorrendo a mesma coisa. A diferença é que não sou nenhuma inconformada. Quem quiser ficar de cabelo preto, branco, azul, que fique. Então, hipster não sou.

Eu não queria ficar de “uniforme, mas estava na onda de outras mulheres que resolveram fazer moda com os cabelos grisalhos.  Ai, fui alertada por minha filha e caí na real. Afe!

Comecei a me achar triste ao espelho, achar defeito nos cabelos brancos que, até aquele momento estavam lindos, olhava, olhava e pensava. Ora achava-os bonitos, as pessoas estão elogiando, ora achava-os feios.

Até que saí de casa, sem pensar muito, e fui à cabeleireira.

Pintei, cortei e voltei feliz. Fui depressa ao espelho.

Depois da sua aprovação, raciocinei. Fiquei igual, de novo. Opa!

E, daí? Não sou hipster…

Maria Francisca – Janeiro de 2023.

 

 

 

 2 de fevereiro de 2023 

Amigos, teremos tarde de autógrafo, dia 11 de fevereiro de 2023, sábado, na Academia de Letras de Vila Velha.

Endereço: Rua Vinte e três de maio, 83, Prainha, Vila Velha.

Conto com a presença de vocês.

Grande abraço.

 14 de janeiro de 2023 

“Assim os dias passarão
Virão as novas gerações
Outras perguntas, prováveis canções
Outro mundo, outra gente, outras dimensões
E na hora marcada, em algum lugar
Uma estrela virá pra lhe acompanhar”

(Renato Teixeira, Almir Sater e Paulo Simões)

 

Assistia a uma reportagem sobre as sequelas da covid-19 no jornal de A Gazeta e a entrevistada falou a expressão “derepentemente.” Foi o link pra eu me lembrar daquela música “Urubu tá comendo gente”. Só que a memória apagou o nome do cantor da tal música.

Vim para a biblioteca, liguei o computador para pesquisar, distraí-me, e cadê que eu me lembrava do que queria pesquisar? Fiquei na maior aflição.

Mais tarde, consegui, ufa! Fiz a pesquisa, vi que era o grupo” Baiano e os Novos Caetanos” formado pelos humoristas Chico Anysio, Arnaud Rodrigues e Renato Piau.

Às vezes, quero falar uma palavra, lembrar um nome de um escritor e tudo me foge.  Converso com amigos sobre isso e todos reclamam da mesma situação. Uns, até bem mais novos do que eu, esquecem nomes, perdem as chaves, não sabem onde deixaram o carro etc.

Nesse dia, como computador continuava ligado no YouTube, fui embarcando naquelas músicas engraçadas do grupo “Baiano e Novos Caetanos” e esqueci o meu esquecimento.

Mas a noite sempre se incumbe do resto dos pensamentos não completados durante o dia. Então, voltei a pensar nesses lapsos de memória, fruto dos anos vividos e vencidos.

A figura de minha mãe surgiu na mesma hora. Já estava em idade avançada. E vinha tendo falhas na memória, sim, mas a primeira vez que ela não me reconheceu foi muito triste. Chorei, chorei.

Ao chegar lá, ela perguntou quem eu era. Um baque no meu coração. Quando eu disse quem era, falou:  Você está brincando comigo e foi me interrogando sobre a família, nome do meu pai, dos meus irmãos, nada disso resolvia. Minha tristeza era tanta, que passei a me sentir culpada por não ficar mais perto dela, por morar longe.  Depois, acabou lembrando-se de mim, mas compreendi que, dali para a frente, só iria piorar.

Tempos atrás, falávamos que a pessoa estava caduca.

Ouço, de vez em quando, pessoas falando sobre demência de alguém da família. Qualquer demência é triste, mas a doença de Alzheimer, penso, é mais triste, porque, além dos esquecimentos, traz dificuldade para a vida diária, e alterações comportamentais. Às vezes, ataca pessoas em plena vida ativa, como nos mostra o filme, do livro homônimo, “Para Sempre, Alice”.

A tecnologia ajuda-nos muitíssimo, mas tem seus prejuízos. Quem se lembra de números de telefone de amigos? Está tudo aí, no celular, para que procurar lembrar? Como gosta de dizer meu marido, a experiência dos idosos perdeu o sentido, porque o Dr. Google resolve tudo. E está à mão. Ninguém precisa se lembrar de nada. Por isso, vamos perdendo o interesse em arquivar na memória e ela vai perdendo o ritmo. Será isso?

Hoje, se esquecemos algo importante, principalmente perto de amigos, costumamos brincar, para disfarçar. Puxa! Estou sendo atacada pelo alemão!

A longevidade é um bem conquistado pela medicina, mas nem tudo é perfeito. Sabe-se.

Minha mãe, depois, bem mais idosa (101 anos), e acamada, o tempo presente era para ela apenas um “indefinido rumor”, como diz Borges em Aleph.

Na nossa cultura não se fala sobre velhice e morte, talvez por entendermos e temermos o caminho para o mesmo rumo, já que a vida é uma incógnita. O que nos espera? Como diz Zeca Baleiro, “Tu não sabes”.

E ninguém se livra da trágica erosão dos anos.

Maria Francisca – Janeiro de2023

 28 de dezembro de 2022 

A chuva dominou os assuntos e as reportagens nos últimos dez dias. Muita gente precisando de ajuda, uns correndo para ajudar, outros se enfurnando em casa para fugir, e outros, ainda, aproveitando-se da desgraça alheia. Sempre temos gente de todo tipo, em qualquer ocasião.

Triste, muito triste, é saber que muitas pessoas, depois de muita luta para conseguir montar sua casa, por mais simples que fosse, ficaram sem nada, porque a água não deu trégua.  Ainda bem que ainda temos cristãos, no sentido amplo da palavra.

Pensando nessa chuvarada, imaginei o dilúvio de que fala o “Genesis”. “As águas subiram cada vez mais sobre a terra, até cobrirem as montanhas mais altas que há debaixo do céu (…) Morreu tudo que tinha sopro de vida…” Segundo o texto bíblico, o dilúvio durou 150 dias. Quando tudo acabou, Deus disse: “Enquanto durar a terra, jamais faltarão semeadura e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite”.

Noé, então, saiu da Arca, pisou em terra firme, abençoado por Deus! E com o arco-íris, que marcou a esperança, segundo o texto bíblico!

E Noé foi logo tratando de plantar sua vinha, cuidar da vida.

Voltando ao “hoje”, depois de dias e mais dias chuvosos, sem ver o sol, ele, o Rei, brilhava tanto que a vontade era sair correndo e aproveitar essa beleza de céu, sol e mar.

Quem conseguiu voltar pra casa, depois dessa chuvarada deve estar muito feliz.

Eu vi, por obra de minha caminhada matinal, a alegria dos donos de barracas que vendem de tudo no calçadão.   Arrumando as mercadorias, esperando os fregueses e torcendo para o sol continuar, para que pudessem ganhar o pão de cada dia, naquela luta diária.

E eu, à medida que caminhava, sentia como se tivesse encontrado uma grande amiga que não via há muito tempo. Sorria, sorria, e quem me visse assim diria que viu uma doida, rindo para as paredes, aliás, para o vento.

E prometi que hoje nada iria me perturbar.  Os mal-educados, eu nem iria ver. Os cachorros atrapalhando o caminho, da mesma forma. Pessoas brigando, falando lorotas, nem prestaria atenção.

Mas esse último propósito não vingou por muito tempo. Como teria dito José de Alencar, o cronista é como o colibri, esvoaçando de caule em caule. “Tudo lhe pertence, até mesmo a política”.

Então, já estava olhando para todos os lados, e escutando juízes, críticos literários, advogados, especialistas em política, todos com “muita sabedoria”, dando lições.

Mas nada disso me incomodou, tamanha minha alegria.

Um homem passou como um relâmpago, num skate de duas rodas, um enorme cachorro corria à sua frente, puxando-o. Na pista de ciclista. Fiquei ali olhando aquela beleza e, ao mesmo tempo, imaginando o perigo a que se submetia o homem e os ciclistas.

Daí a pouco, ouvi a notícia da chuva em Belo Horizonte, que estava deixando os moradores sem energia, derrubando árvores, causando alagamentos, enchentes e confusão no trânsito.

Nada é perfeito.  Minha alegria esgarçou-se, para, em seguida, encontrar uma linda criança que me sorriu.

Foi como se eu tivesse visto um arco-íris.

Maria Francisca – dezembro de 2022.

 

 

 

 




Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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