Você é um selfish? - Maria Francisca

 21 de agosto de 2020 

 

Esses dias, vi num jornal uma foto de um bonito jovem, com uma legenda mais ou menos assim:

“André (nome fictício) aproveitando o belo sunset na praia”

Fiquei a imaginar o que leva uma pessoa a usar uma palavrinha em inglês para algo que, falando no nosso português, seria muito mais bonito. Falo só por mim, mas acho a expressão “pôr do sol” tão linda que eu jamais iria substitui-la por sunset.

Sei que até as palavras caem de moda. Queima, de um tempo mais distante, passou a liquidação, depois, inglesou, virou off. Farmácia é drugstore, entrega em domicílio é delivery, ao vivo é live e assim, por diante.

Então, resolvi entrar na onda, trazendo o título em inglês.

Brincadeiras à parte, quero, mesmo, é falar de egoísmo. O dicionário Caldas Aulete traz o seguinte:  amor-próprio; exclusivismo, solipsismo, filáucia, orgulho.

Solipsismo e filáucia ficarão para outra oportunidade, antes que me perguntem: Filosofia numa hora destas?

Falemos de orgulho, amor-próprio, exclusivismo.

Orgulho é um dos pecados capitais. Entretanto, há orgulho e orgulho.  Você pode se sentir orgulhoso, feliz, por algo belo que conseguiu realizar.  Você sabe quem você é, tem amor-próprio, autoestima, sem achar-se melhor do que qualquer outra pessoa. Essa atitude jamais poderia ser condenada. E, no meu entender, não pode ser confundida com egoísmo, apesar de constar em dicionário.

Orgulho, pecado, é entender-se melhor do que os outros, é desdenhar das pessoas que o orgulhoso julga menor. Já escrevi um texto que, no linguajar moderno, viralizou – Juizite – foi objeto de publicação de muitas revistas e jornais, neologismo para designar o juiz pedante, ego soberbo, que se vê melhor do que os outros, e consta do meu livro “Caminhos”. Da mesma forma, um senhor que, tentando furar a fila em aeroporto, gritou: Sou diamante, minha filha! É o narcisista.

E já que falamos em inglês, o Oxford Learners’s Dictionary registra selfish em tradução livre, como “preocupando-se apenas consigo mesmo e não com outras pessoas” (caring only about yourself rather than about other people).

O egoísta, mesmo, é o exclusivista, só pensa em si, sem se importar com ninguém mais. Se é exclusivista e pensa só nele próprio, é, também, mesquinho, sovina, avarento.

São pessoas que não conseguem dividir nada. Pão-duro, canguinha, unha de fome, mão de finado, Tio Patinhas – são alguns dos apelidos para os sovinas.

Fica-se pensando o que faria a pessoa ser assim. Por que muitos gastam até o que não têm, outros são generosos, mas prudentes e, outros, ainda não conseguem dividir nada?

Li o seguinte na Revista Super Interessante que “A ciência segue em busca dos motivos para esse comportamento antinatural. O que se pretende saber é se existem áreas do cérebro capazes de desencadear a cobiça e, consequentemente, o desejo de ter mais e mais.”

O biólogo Michael Soulé lembra, no mesmo artigo, que “pelo menos dez diferentes centros no cérebro são ativados quando a pessoa tem impulsos para praticar inveja, orgulho, ódio, gula, preguiça, luxúria e avareza, a maior parte deles localizada no sistema límbico, responsável pelas emoções.”

Mas a avareza, segundo a psicologia, pode ser desencadeada por um medo, nem sempre real. Se a pessoa passou fome quando criança, rico, quer sempre guardar, com medo de lhe faltar comida no futuro.  Será?

Mas vejo ricos avarentos, pobres avarentos, e isso pode ir passando de pai para filho. Não de forma genética, mas pelo exemplo, penso.

Claro que precisamos de dinheiro para nossa sobrevivência e ter dinheiro não é pecado. Ter uma poupança para os momentos de aperto é louvável. O pecado é o apego excessivo aos bens materiais, e viver, muitas vezes, de forma precária, com pena de gastar o dinheiro, simplesmente pelo apego. E ajudar algum necessitado? Nada. Isso, sim, é triste.

E há, ainda, aqueles que só querem receber elogios, mas não dão atenção ao que os outros fazem.  Hoje, então, com o mundo digital…Muitos só querem like, mas não dão a mínima atenção para o que os outros postam, mesmo amigos.  Isso, também, é egoísmo.

“A Humanidade está precisando de colo”. Assim começa uma entrevista do cantor e compositor Renato Teixeira, no caderno 2 da Tribuna de 18.08.2020.

Disse que a solução para resolver o problema do mundo é maternal. Deve-se ter compreensão, afeto e carinho, porque o formato do mundo que conhecemos acabou.

Complemento com meu pensar: quem espera só receber colo, nunca o terá. Pode receber por um tempo, depois…Minha praga? Não! Vivência.  Como em para-choque de caminhão: “Os egoístas morrem sozinhos…”

Queremos colo, sim, mas vamos também dar colo, sorriso, a mão, ajuda financeira, quando pudermos, que o mundo ficará melhor.

Maria Francisca – agosto de 2020.

 

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10 comentários

  1. 1- Achei interessantíssimo essa parte do uso de termos em inglês ou outras línguas, quando existem termos próprios equivalentes na língua pátria.
    2- Essa do egoísmo, “sovinismo”, mão de finado (essa é ótima, não conhecia), também é coisa que observamos todo dia e alguns realmente exageram mesmo.
    3- Essa partilha, que inclusive o Cristo tanto prega, muitos fazem questão de não praticar e outros só fazem “da boca pra fora.

    • Pois é, Roberto Vasco, muitas vezes somos hipócritas, mesmo. Mas que tenhamos o meio de nos redimirmos de nossa mão de finado…rs.
      Obrigada.
      Grande abraço,
      Francisca

  2. Bom, o que falar dos seus textos? Simplesmente sensacionais. Explicativos.Saudades!! bjs.

  3. Muito bom esse seu artigo. Extraordinário, parabéns !
    Você me fez lembrar também algumas palabras em inglês, embora eu não consiga entender bulhufas ! Mas, algumas palavras nunca esquecerei,por exemplo o título de LP 1970 : Sunrise Sunset.

    Continue me enviando suas crônicas, eu agradeço de coração.

    Abraço

    Arildo


  4. Geraldo de Castro Pereira
    29 de agosto de 2020 às 18:28

    Francisca, excelente sua crônica, plena de ensinamentos. Eu mesmo passei muita necessidade quando criança e jovem. Agora,vivo tranquilo,financeiramente falando.Mas, procuro ajudar muitas pessoas, principalmente as da minha família.Faço,no entanto, a minha poupança para as coisas incertas que podem acontecer em nossa vida! Eagora, com esta pandemia, temos que ser mais solidários mesmo! Como se diz popularmente, “caixão não tem gaveta”. Parabéns!

    • Pois é, Geraldo. Você está certo. Ajuda sua família, é solidário, mas guarda para as emergências. Obrigada pela leitura e comentário.
      Um abraço.


  5. José Roberto de Oliveira
    15 de setembro de 2020 às 22:50

    oi!
    Altruísmo é necessário…é premente…urgente. Isto que posso depreender de seu oportuno texto,principalmente por estarmos num momento de pandemia
    Mas as receitas para solucionar ou mitigar tal quadro são tão antigas que me resta peremptoriamente duvidar e descrer dos valores humanos relativo a esse mister. Particularmente não creio que tal “indiferença” para com o próximo recaia somente na falta de exemplo.Ensinamentos das maiores matrizes religiosas condenam essa atitude do humano e assim o mundo sempre caminhou nesse dualismo sinistro. Assim, vou me ater a citar dois textos da Bíblia Sagrada dos Cristãos, a saber:Tiago 2:14-16.Um Abraço, minha amiga.

    • Meu amigo, quem sabe, não é? Nós somos tão pequenos diante de tanta coisa da vida…
      Obrigada pela leitura e pelo comentário.
      Grande abraço.

Responder para to Geraldo de Castro Pereira


Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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