Cadê minha bicicleta? - Maria Francisca

 11 de novembro de 2018 

“Roubaram a bicicleta de Vavá à porta de uma farmácia na Glória” foi a manchete do Jornal “A Gazeta” há 50 anos, registrada um dia desses.
Lendo a notícia, fiquei meditando sobre nosso tempo, com a criminalidade à solta. Imagine se um dito roubo de uma bicicleta seria manchete?
Aí, como disse Hermes de Aquino, em “Desencontro de Primavera”, no pensamento a gente voa, lembrei-me de um fato envolvendo bicicleta.
Quando juíza em Belo Horizonte, presidi uma audiência em que tanto patrão como empregado eram quase miseráveis. É como costuma dizer a colega Wanda: é a luta entre o roto e o esfarrapado.
Não me lembro do valor postulado na ação. Era pouca coisa. Pobre não tem muito a pedir. É humilde até nisso.
Pois bem. O empregador não tinha dinheiro, não tinha nada. O comércio, se é que podemos chamar aquele botequim de periferia de comércio, fechou por falta de tudo. O reclamante lembrou-se de que o reclamado tinha uma bicicleta velha e afirmou que receberia o veículo como pagamento. A tal bicicleta, então, foi entregue ao dito credor.
Alguns dias depois, retorna o reclamante quase chorando: o patrão encontrou-se com ele na rua e tomou sua bicicleta…
Nesse caso, ninguém ficou sabendo qual era o roto e qual o esfarrapado. Ou melhor, o empregador era mais esfarrapado, porque nem honrou o compromisso assumido.

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4 comentários


  1. geraldo de castro pereira
    11 de novembro de 2018 às 16:09

    muito bom, Francisca! Também já julguei casos parecidos. É a triste realidade! Abços.


  2. ricardo menezes silva
    15 de novembro de 2018 às 09:54

    Essa simplicidade no escrever é uma delícia! Ela transforma situações fáticas simples em um luxo de notícia! É a marca franciscana e coerente de Maria Francisca, para o nosso deleite!

Responder para to geraldo de castro pereira


Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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