BEM-VINDO À EXPOSIÇÃO - Maria Francisca

 13 de janeiro de 2021 

Tenho lido e ouvido sobre uma polêmica que se instalou após o aplicativo Whatsapp avisar aos usuários que passará, a partir de 08 de fevereiro de 2021, a compartilhar seus dados com o Facebook. Muitos já migraram para outros aplicativos. Mesmo porque na mensagem citada não há oportunidade de escolha. Se concordar, tudo bem. Se não, rua…Procure seu rumo.

Em verdade, acredito que eu até já tenha concordado com essa exigência, sem prestar atenção, porque, se todos estão recebendo essa tal mensagem e eu não estou, o que posso deduzir? Ou eles já estão com meus dados todos lá bonitinhos, distribuindo aqui e acolá ou não me querem com eles.

É interessante essa discussão, mas nós já não estamos na boca do “grande irmão”, a mídia?  Nós não recebemos diariamente propaganda de livros, revistas e outras coisas, simplesmente pelo fato de termos pesquisado na internet alguns desses itens? Basta abrir um site qualquer e “pulam” inúmeras propagandas à nossa frente.

Eles já não controlam sua cabeça, para saber o que pensa?  Estamos no FB, no Google, no Curriculum Lattes, nas associações de classe. Nos “Jus Brasil” da vida, quem participou de alguma forma de um processo, seja como parte, advogado ou juiz lá está, para quem quiser ver. Até o inofensivo PicPay não é tão inofensivo, se você não tiver cuidado de “esconder” os pagamentos que fizer.

Uns querem vender, outros querem saber a sua linha política, outros, para pesquisa seja lá de que for… Então, já estamos “fritos” faz tempo.

Ruy Castro, numa crônica no Uol, há exatamente um ano, comentou sobre a mídia, as redes, a influência delas sobre as religiões, a política etc:

“Mesmo as suas postagens mais bobas, como a foto do cheeseburguer que você está a ponto de comer no quiosque, contêm informação a ser processada e usada para fins outros. E que fins são esses? Sociais, econômicos, comerciais, estratégicos, políticos, até eleitorais.

Por meio delas, sabe-se quem é mais suscetível a mensagens liberais ou nacionalistas, de esquerda ou de direita ou a favor da Terra redonda ou chata, e manipulá-las de acordo. Você próprio já deve ter recebido mensagens que dizem exatamente o que você “queria dizer” e só não sabia como.”

Por fim, disse que estaria imune a isso, porque não tinha aplicativos, tampouco celular, e comentou com um amigo. “Ele perguntou se eu consultava o Google. Respondi que sim. E ele: “Então, bem-vindo ao clube”.”

Óbvio que não gostamos que ninguém  “tome conta” de nós, mas a internet e as ditas redes sociais fazem-nos grandes favores, como já disse noutra crônica. Ajuda-nos a encontrar algum amigo há muito perdido no mundo, na pandemia foi uma ajuda memorável, para contatos com as pessoas, para os encontros virtuais, para as compras, para as lives…

E já que o mundo gira e não podemos ficar inertes, aliás, ninguém fica livre de expor-se, mesmo se o quiser (a menos que more numa caverna, longe da civilização), vamos, então, tentar descobrir um meio de expor-nos menos.

Enquanto isso, fique quietinho no seu canto e nem uma pesquisa no google tente fazer, porque, senão, vale repetir o que disse Ruy Castro:

Bem-vindo à exposição!

Maria Francisca – janeiro de 2021.

Mariafrancisca.blog.br

 

 

 

COMENTE:

8 comentários

  1. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👍👍


  2. John Aluisio Uliana
    14 de janeiro de 2021 às 10:00

    Sempre brilhante parabéns

  3. Fran,muito bem abordado.
    Com o trabalho em casa, usando as redes sociais , tivemos que abrir nossa sala, nossos familiares, nossas cores de tintas ou de papel de parede…tudo muito exposto.

    • Pois é, Alzenir. Que risco vocês estão correndo neste tempo ruim! Além dessa questão, temos o perigo dos chamados Hackers, como ocorreu recentemente no TSE.
      Obrigada pelo gentil comentário.
      Abraços.

  4. Oi, Francisca!
    Que satisfação imensa ler o seu texto. Muito obrigado pelas palavras elucidativas. É isso mesmo, a grande questão a se pensar é: “como nos expormos menos, porque expostos estamos”. O que me pesa mesmo é a imposição, ainda mais da forma que está sendo colocada, o que fere, ao meu ver, o nosso direito de escolha. Acho que essa realidade unilateral que essas grandes empresas insistem em criar quase que destruindo a concorrência sadia entre ofertas não pode ser aceita simplesmente. Também acho que essas políticas precisam ser mais claras, pois, como você, até receber a notificação, também não sabia se em algum dia tinha aceitado ou não… De qualquer forma vivemos em mundo de abusos onde nada parece escapar ao controle e precisamos aprender a estar nele, pois, ao mesmo tempo que é um benefício também se torna uma prisão. O processo é perverso e não reconhecem limites. Mas que bom termos espaços de reflexão como os blogs, e o seu é um deles, onde o diálogo é muito bem-vindo.

    • Pois é, Leandro. Você tem um blog lindo, um desses espaços onde você pode transitar sem medo. Eu costumo falar que a as redes sociais são como Procusto, que cortava as pessoas, para que elas ficassem como ele achava que deveria ser. Cuidemos de nossas crianças nesses espaços porque elas correm muito mais riscos.
      Grata pelo seu gentil comentário
      Um abraço.

Responder para to Alda


Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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