A VIDA E A VIDA DAS FLORES - Maria Francisca

 10 de janeiro de 2021 

 

 

Nesse início de ano, minha Dama da noite resolveu presentear-me. Brotaram 8 botões, mas foram desabrochando pouco a pouco, talvez para que o presente durasse mais, pensando que eu seria como crianças, que roem aqui e acolá um doce muito gostoso para perdurar o prazer. Mas ontem, saíram do sério e, para minha alegria, desabrocharam 4 flores de uma vez.

Triste é a efemeridade dessas lindas criaturas. Duram uma noite. Estão lá, murchas, penduradas, tristes. Vão ficando assim, até caírem de vez.

Vejo-as belas e, de repente, vejo-as feias, caídas.

Assim somos nós. Jovens, exuberantes, depois velhos, murchos, até a extinção total. Somos efêmeros, finitos.

Não há, pois, como não pensar na vida, principalmente com tanta doença e, agora, com essa peste que assolou o mundo. Penso que nunca se falou em velhice, doença, morte, como agora. A imprensa não para com reportagens, faladas, escritas, virtuais ou não, noite e dia, inclusive com o número diário de mortes nos estados, uma novidade desses tempos esquisitos e tristes.

Quando alguém anuncia o falecimento de um familiar ou amigo, a primeira pergunta: qual a idade? 80 anos: Ah! Se menos de sessenta: Nossa! Tão novo!

E sai mensagem de todos os lados. A competição tomou conta das vidas. Muitos ditam procedimento e sabem tudo e, pelo visto, ninguém sabe nada.  E cada um faz do seu jeito e sente-se no direito de dar receitas. Sem falar nos tais “influenciadores”.  E, agora, com a discussão sobre as vacinas? Vai tomar? Eu vou, eu não vou, e por aí segue…

Como diria Brás Cubas, de Machado de Assis, a sandice tomou conta, criou amor às casas alheias e ri da razão, como se soubesse o mistério da vida e da morte. Seria necessário que a razão lhe tomasse a casa à força, expulsando-a porta afora, mas a razão está dormente, uma pena.

Ou, então, nas palavras de Xavier De Maistre (em “Viagem ao redor do meu quarto”), o homem, esse ser composto de corpo e alma, não deve voltar-se contra o corpo (que não sente, nem pensa), mas contra o animal que o habita, um “ser sensível, perfeitamente distinto da alma, verdadeiro indivíduo que tem existência à parte, tem gostos, inclinações, vontade e que só está acima dos outros animais porque foi mais adestrado”.

Tanto a obediência ao animal (de Maistre), quanto à sandice (de Cubas de Machado de Assis) podem conduzir o homem a catástrofes.

Importante que a razão vença a sandice e a alma (leve) vença o animal, para que tenhamos sempre vida, mesmo efêmera, cheia de mistérios insondáveis e, talvez, por isso, tão bela e importante para nós.

Se o céu começa aqui na terra, cabe a nós tornar esse tempo melhor, inundado de amor e ternura…Auxiliados pelas flores, por que não? Como disse Castro Alves,

“Deus ao mundo deu a guerra,
A doença, a morte, as dores;
mas, para alegrar a terra,
Basta haver-lhe dado as flores.”

 

Maria Francisca, janeiro de2021.

Mariafrancisca.blog.br

 

 

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2 comentários

  1. Mto bem colocado 👍 vamos encher a vida de flores
    🌺🌸🌼🍂🍂💐

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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