Uma noite dessas, sonhei que era professora de uma turma enorme de criancinhas. Lembrei-me, então, da minha juventude, início de carreira, quando era professora do “Infantil” e das historinhas repetidas a mais não poder, a pedido das crianças. E, se eu errava de propósito, em uníssono, gritavam: Não é assim!
Uma das preferidas, era de um desenho de uma boneca chamada Pituchinha. Pompom, sua parceira, perguntava: Você tem medo do escuro, Pituchinha? Não! Eu tenho medo da espada do soldado!
Logo depois, umas iam perguntando às outras, se tinham medo. Cada criança contava sobre um medo. Imaginem um debate com crianças de 4 a 5 anos de idade… E todas queria falar ao mesmo tempo. Tivemos que estabelecer um mediador em cada historinha.
Bem. Isso faz tanto tempo… Mas fez-me meditar sobre nossos medos.
Era domingo. Aproveitei a manhã ensolarada e saí para caminhar. Segui pelas ruas vazias, desertas, até o convento da Penha. Comecei a ficar com medo daquela rua sem ninguém. Que será? Que silêncio é esse? O perigo mora em qualquer esquina, sabemos disso. Então, se algo acontecer, quem me socorrerá? Seria esse o medo da solidão? Ou de ladrão? Nos jornais, e mesmo a olho nu, vemos assaltos para todos os lados. Seria a confirmação da distopia? De vivermos fechados nos prédios, com medo da violência?
O pior é que não fui para o calçadão, devido à quantidade de pessoas circulando por ali, sem qualquer cuidado. Formando “bolinhos” na calçada, sem máscaras, ou seja, o medo fez-me optar por outro espaço. Medo de gente? Medo de doença? Medo de contágio da terrível covid que tem matado centenas, velhos e novos?
Deixei a emoção e busquei a razão: não caminho na beira da praia com medo da covid. Não caminho na rua, ora com medo da solidão, ora com medo de gente (assalto). Então, vou ficar encerrada em minha própria masmorra?
Por incrível que pareça (há sempre uma coincidência?), recebi de uma vizinha um livreto do Pastor Hernandes Dias Lopes sob o título: “Natal: a vitória sobre o medo”. Trata dos nossos diversos possíveis medos, dentre eles, o da COVID-19 e da violência.
Sobre a violência, ele diz: “A violência está nas ruas, nos corredores do poder e dentro das famílias. (…) Há violência do forte sobre o fraco, do rico sobre o pobre, dos governantes sobre os governados. (…)Muitos têm medo da violência. Medo de sequestro, medo de bala perdida. Há violência física e violência verbal. Muitas pessoas são massacradas com palavras que ferem mais do que espada.”
Quanto ao medo da Covi-19, diz o Escritor: “Um pequeno vírus parou o mundo. (…) Precisamos de prevenção e cautela. A nossa fé não nos imuniza. (…) Aprendemos, de igual forma, que ricos e pobres estão sob os mesmos riscos. Nenhum palácio pode proteger os poderosos.”
Aqui, faço a minha reflexão. Apesar de pobres e ricos estarem vulneráveis, os pobres, sempre, estão muito mais. Pelo trabalho, pelas necessidades, pelo tipo de moradia etc. E, além disso, o acesso ao tratamento não é igualitário.
Então, como vencer o medo? Vamos aos conselhos do Digno Pastor. “Precisamos administrar os temores que assaltam nosso coração. (…) O medo atormenta e oprime. Tira nossos olhos de Deus para colocá-los nas circunstâncias. O medo apequena a fé, enfraquece o amor e escurece a esperança. (…)”.
A confiança em Deus ajuda-nos, pois, a vencer o medo, a enfrentar os perigos, as adversidades, a doença, a velhice e tudo que nos ronda, tira-nos o sossego, e nos afasta da espiritualidade. “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor, e de moderação” (2 Timóteo, 1.7).
Vamos, pois, ter cautela, obedecer à orientação da ciência, cuidar de nós, respeitar e cuidar do outro, e permanecer na fé.
Por fim, pensemos num Natal abençoado, amoroso, compassivo, e, como consta do livreto: Que tenhamos um Natal com a vitória sobre o medo.
E que 2021 venha com mais esperança e alegria.
Maia Francisca – dezembro de 2020.
Edson Lopes
10 de dezembro de 2020 às 16:18
Quando eu crescer quero ser igual a você. Atenta em tudo e em todos. Uma simples caminhada você consegue esboçar e narrar esse belíssimo texto. Como sou seu fã,não conta o que digo? Claro que conta,por isso sou seu fã. rsrsrs
mariafrancisca
10 de dezembro de 2020 às 17:53
Rsrsrs. Você é demais, Edson. Além de um grande amigo, um leitor qualificado e, portanto, valorizo bastante seu comentário. Grande abraço.