Resolvi fazer um curso de Provas digitais. O mundo é digital. Nada há nesta terra que não seja digital. Então, para conhecer melhor esse “admirável mundo novo”, resolvi estudar mais.
E estou vendo coisas do “arco da velha”, como diria minha mãe.
Conheço esses meandros faz tempo e já falei sobre isso numa crônica do ano passado, mas agora observo que nada sabia. Às vezes, fico boiando, fora de órbita, tamanha a sofisticação dessas redes. Elas nos enredam de tal forma que, inertes, pasmos, diante de tanta novidade, pensamos num labirinto sofisticado, difícil de ser vencido.
O pior é que se não nos atualizarmos, vamos morrer atropelados, como diria um antigo professor, quando falava dos novos tempos.
Então, vamos lá, aprender tudo que for possível e entrar nesse mundo louco, digital, mesmo correndo o risco de nos tornarmos apenas um robô, tal nosso engajamento nessa loucura.
Uma coisa é certa, como falou um expositor, somos, agora, leitores- navegadores. Temos baixa paciência para refletir e analisar o que lemos. Temos apenas o sentido heurístico, ou seja, procuramos o lado que nos pareça ser correto, sem pesar os dois lados da questão. Isso, no decorrer do tempo, pode afetar nossa visão da realidade. É um risco.
Pois é. Nem sabemos mais o número dos telefones de nossos amigos. Está tudo à mão. Isso não afetará nossa memória, com o passar do tempo? Não nós, que já temos uma vivência, eu, por exemplo, mas nossos netos. Diz-se que a nova geração tem QI menos elevado do que a anterior, não sei se procede, mas há pesquisas nesse sentido. Já se fala que os filhos são menos inteligentes do que seus pais.
Em verdade, nós não nos damos ao trabalho nem de telefonar para as pessoas. Falamos pelo WhatsApp, mensagens de voz que são mais rápidas, mandamos uma figurinha para agradecer, outra pra concordar, e assim, vamos levando com os antigos hieróglifos. Daqui a pouco, nem vamos mais saber ler, nem escrever.
Fabi Gomes, colunista do UOL, hoje, 22.03.2022, pergunta: “Já botou reparo naquele buraquinho ali na parede? Não, não se trata daquele reparo que demanda correção, não me refiro às obras. Tô falando de reparar no sentido de olhar demorado, se dar conta, observar atentamente.”
Para não cair nesse marasmo de ler e não saber o que estou lendo, não reparar em nada, com um olhar atento, quando deparo com aqueles vídeos que viraram uma praga, dando aulas (?) sobre determinado assunto, sempre pergunto ao remetente: quem é esse? Ou: de onde é isso? Foi filmado quando?
Muitos não gostam de minhas perguntas. Falam secamente: não sei. Recebi e repassei.
Bem. Estou a estudar, para conhecer, atualizar-me, mas com todo cuidado para não cair nesse enredo, sempre analisar o que leio, não me tornando apenas leitora-navegadora.
Faço esse esforço todo, para, ao final, quando sabem que estou fazendo esse curso, dizem: Você não para!
Uns apenas querem elogiar, mas, para outros, significa a pergunta: pra quê? Como a dizer: Você já está aposentada, quer aprender sobre provas digitais pra quê? Nem advoga… Ora, porque quero. Quero aprender, porque gosto, porque ainda estou aqui, forte e valente. E pronto.
Não chegou a hora de ficar num cantinho, como disse nestes versos de antigo poema (do livro: Sal, pimenta e ternura):
“Vou ficar velhinha,
De cabelos branquinhos,
Caladinha, no meu cantinho.
Só olhando, e sorrindo.
Todos pensarão:
Ela é bestinha…”
Maria Francisca – março de 2022.
Marco Aurélio (Coré)
12 de abril de 2022 às 08:42
Adorei. Senti como se tivesse te ouvindo contar um “conto”.
Bjo.
mariafrancisca
12 de abril de 2022 às 09:34
Coré, meu querido sobrinho, saudades de você.
Obrigada pela leitura e comentário. Estamos precisando de uma conversa presencial, não?
Beijos.
Geraldo de Castro Pereira
12 de abril de 2022 às 09:28
Francisca, gostei muito de sua crônica!Eu sou analfabeto em questões de informática! Vc. sabe muita coisa,pois até tem me socorrido em minhas postagens! Parabéns e continue nos brindando com suas belas e atuais crônicas! Abraços fraternos!
mariafrancisca
12 de abril de 2022 às 09:33
Obrigada, caro amigo, mas você sabe muito mais do que isso. Dá liçoes de latim, de português e outos “bichos”…rs.
Grande abraço.
Geraldo de Castro Pereira
12 de abril de 2022 às 09:33
Bom dia dia, escritora Francisca! Bem atual sua crônica! Gostei muito! Continue nos brindando com suas belas e atuais crônicas! Parabéns!
João Roberto Vasco Gonçalves
12 de abril de 2022 às 11:05
Não sabes quão maravilhosa foi essa crônica para mim agora, não somente literária mas utilitariamente.
Vou pegar uma carona nessa ideia do mundo digital maluco de hoje e tirar partido dele, ao editar meu novo livro, porque percebi que nesse texto está implícito o tal de “LINK”, muito comum no vocabulário de hoje. Como as fotos coloridas encarecem proibitivamente o livro, o próprio leitor me ajudará, abrindo os tais links que colocarei das fotos e vídeos. Quanto a capa, acabo de definir também baseado nisso: Vou mandar o vídeo que fiz passear numa núvem dessas, pegar o link e informar na capa. Tudo que o leitor tem a fazer é apontar a “setinha” para o link ao mesmo tempo que aperta “control” e assistir. Tá vendo, até o meu vocabulario ja recebeu o seu “update”.
mariafrancisca
21 de abril de 2022 às 18:34
Você é ótimo! Rsrsrs.
Gosto de suas ideias. Escreve, escreve, não sei como dá conta de tanta coisa…
E tome livro. E gosto disso.
Grand abraço, meu caro amigo.
Leandro B. Silva
12 de abril de 2022 às 14:36
Minha amiga, a modernidade nos trouxe essa realidade, mas te confesso de coração que sinto tanta falta de um passado que sei que não irá voltar. Por isso, é isso mesmo: Não podemos parar!
mariafrancisca
21 de abril de 2022 às 18:33
Eu tabém sinto falta, meu caro amigo. Do olho no olho, das reuniões presenciais. E sabe que as coisas online me cansam muito mais?
Um novo mundo! Ou seja, “Admirável Mundo novo”, como diria Huxley.
Grande abraço.
Samiri
13 de abril de 2022 às 09:47
Nada como uma pausa no meu trabalho burocrático para me inspirar lendo suas crônicas, madrinha! Eu também sou dessas que sempre pergunta a procedência das coisas que saem repassando sem questionar, rssrs… Um abraço carinhoso!
mariafrancisca
21 de abril de 2022 às 18:30
Querida afilhada, saudades de você. Pesquise e critique, é o que podemos fazer com tanta notícia esquisita.A tecnologia é uma faca de dois gumes. Se descuidarmos, ela fere.
Grande abraço, com muito carinho.