Passarinhos inocentes,
Em bando, mal nasce o dia,
Dançam, cantam, alvoroçados
Na algaravia articulados.
Findo trinado, alçam voo
Ora grupo, ora solo,
De vento em vento,
Vêm e vão, a todo tempo.
Eu, passarinho inocente,
Cantava em bandos, em brados.
Poesia à espera de mim
Exalava nos sonhos, sonhados.
Hoje, pensante, aqui pasma.
Num canto, sozinha, nas redes,
Nas roças, nos cantos, quieta…
Procuro, em vão, da poesia,
A receita.
Que a roubou de mim?
Os sonhos escureceram
Sobram arrulhos, orgulhos
E, da rua, bandos em brados.
Quando o sol chegar…
Ah! Quando o sol chegar!
Maria Francisca – outubro de 2020