PROFISSÃO: ESCRITORA - Maria Francisca

 28 de setembro de 2016 

 

passarinhos-escrever-e

Profissão? Escritora. É? Que legal! O que você escreve? Meu nome, ora! Seu nome? KKKK… Se você quiser, posso escrever o seu também. E dessas pessoas que aqui estão… Uns olharam-me com espanto, mas muitos riram bastante.  A moça me deixou em paz, eu paguei e saí.

Não sei se as pessoas perceberam que era uma brincadeira ou se pensaram que eu era uma doida.

Dou esse tipo de resposta nessas lojas, onde querem saber até meu tipo sanguíneo. Aí, invento umas coisas, para que parem de investigar minha vida, sem nenhum sentido. Aliás, tem sentido só para eles: querem saber se você pode comprar mais vezes, para importuná-lo, sempre com telefonemas, e-mails ou mensagens, agora com o infernal whatsapp que, se não for silenciado, ou bloqueado, como tenho feito, é capaz de colocar qualquer um meio doido ou viciado.

E por falar em escritor, participei há pouco tempo de um evento literário, onde surgiu uma discussão sobre essa profissão. Um dos presentes, que, inclusive, estava lançando um romance, disse que não se sentia escritor e nem falava que era essa a sua profissão, porque aqui no Estado e talvez no Brasil, ninguém consegue viver só de literatura. E todos ali concordaram. Um era professor, outro, jornalista, médico, outros juízes…Em verdade, se observarmos a biografia dos grandes escritores, todos têm ou tiveram profissões paralelas.

As leis de incentivo, infelizmente, só beneficiam os amigos do rei. Para os pobres mortais é tanta burocracia, que o dito escritor desanima. E a secretaria de educação tampouco valoriza o escritor da terra, porque compra pouquíssimos livros para as bibliotecas públicas, conforme li num artigo recente de membro da Academia Espírito-Santense de Letras.

E ninguém quer ler. É ínfimo o número de leitores de livros tradicionais. Os e-books, a internet, as resenhas, os resumos. O tempo é pequeno. As escolas de ensino médio (até universidades) não incentivam a leitura, senão de resumos, apenas para que os alunos conheçam de forma superficial as obras dos grandes autores. E não é só aqui no Brasil, não, como o afirma Nuccio Ordine, em “A utilidade do inútil”. Acompanhando a tendência, as livrarias estão desfiguradas, quando não se fecham e desaparecem. O próprio Ordine afirma isso em relação a Paris, Itália e outros países. Elas só vendem o que o mercado dita: obras da moda.

O certo é que é difícil ser escritor. Escrever um livro, talvez não seja tão difícil, se a pessoa tiver talento, e seja seu próprio patrocinador. A propósito, a tirinha de Estêvão Ribeiro acima.

Pois é, apesar de ter dito que sou escritora, na seção “Fora da Toga” do Jornal da ANAMATRA (Associação Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho), com tantos percalços, tenho minhas dúvidas, apesar de ter diversos livros publicados e ser membro de uma Academia de Letras.

Fico, portanto, com a profissão somente para brincar com as atendentes bisbilhoteiras.

Maria Francisca –julho de 2016.

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8 comentários

  1. … Com sua delicadeza, senso de observação do cotidiano, talento, sensibilidade. Publicou livros técnicos da área, prosa, verso, é acadêmica… se não é escritora, quem a será? Grande abraço. Sua produção nos encanta. Parabéns !

  2. Vindo dela…não poderia sair outra coisa…fã número 1.

  3. – Ha há há ! Ia eu, todo serelepe, no comentário anterior quando, repentinamente em uma esquina de sinuca gramática, fui ao encontro de um monstro mesoclítico (lembrei-me do Jânio Quadros). Tentei driblá-lo, mas ele era esquivo… então deixei como estivesse, numa pequena subversão. Coisas da comunicação, rsrsrsrsrs.

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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