Esses dias, lavava um casaco de frio do meu marido (sim, eu também tenho meus momentos de prendas domésticas), cujas listras brancas das mangas estavam encardidas. Esfreguei, esfreguei, e nada de sair. Fiquei ali batalhando com aquelas manchas até conseguir, porque sou persistente e teimosa a mais não poder.
Enquanto esfregava, comecei a pensar na dureza da vida de muitas mulheres. De um tempo ou de cidade sem energia elétrica, sem máquina de lavar roupa, ferro elétrico ou qualquer outro equipamento para ajudar nas tarefas domésticas, que cabiam a elas, só a elas.
A vida moderna trouxe algumas facilidades, apesar de trazer muitas dificuldades de outra ordem, mas isso é outra história. Hoje, ninguém se priva de uma máquina de lavar roupa ou, ao menos de um tanquinho. Quem não tem um ferro elétrico? E muitos têm até robô para limpar a casa. Claro, é tudo muito caro. Então, é sempre a vez dos mais iguais.
A tecnologia, a internet, trouxeram muita coisa boa. E coisa ruim, também. Umberto Eco teria dito que, embora valioso instrumento, a internet teria dado voz a muitos imbecis. Nada é perfeito, claro. Um celular, ai, ai, ai. Todos são “obrigados” a ter. Quem não tem sofre, porque não pode postar fotos no instagran, no story do facebook, no whatsapp, e por aí vai.
Imagine esse tempo de pandemia sem a rede social! As aulas virtuais, alunos e professores nessa lida pela internet. No período de lockdown foi o que salvou a todos para os contatos, os vídeos… Ninguém podia ver ninguém. Tudo virtual. E ainda estamos aguardando esse tormento passar.
E se houvesse um apagão? Como ficaríamos? Sem luz elétrica, sem tv, sem internet, sem celular… Foi do que tratou Don Delillo no livro “O silêncio”. As pessoas que, antes, até esbarravam nas outras, porque nem olhavam para frente na rua, distraídas com os celulares, agora, andavam a esmo, perdidas, sem rumo, mergulhadas na correnteza de gente.
Imaginemos esse silêncio de que fala Dom Delillo neste tempo de pandemia. Lá, como aqui, aliás, no mundo inteiro, o desenvolvimento humano não acompanhou o da tecnologia que está anos luz da nossa vã filosofia. Não saberíamos lidar com isso. O caos se instalaria. Restaria um vazio total e, por que não, o fim do mundo!
Sempre amei silêncios, pausas, como na música. Gosto de lugares tranquilos, praias, montanhas. Nada melhor para repor as energias, retornar para casa com o coração leve, como se a vida recomeçasse daquele ponto. Um silêncio que conduz à paz na alma e no coração. Não esse silêncio vazio, de andar a esmo, solto pela rua, e, ainda, por ser obrigado, já que nada é mais possível.
Seria como a catástrofe narrada por Saramago em “Ensaio sobre a Cegueira”?
Felizmente, estamos em paz. A guerra da pandemia está passando e, breve, poderemos respirar, aliviados. E o silêncio, o silêncio suave, da pausa, poderá ser comemorado à altura do bem que faz a todos os corações.
Maria Francisca – Setembro de 2021.
Ricardo Gueiros Bernardes Dias
19 de setembro de 2021 às 18:43
Que lindo…concordo demais!
mariafrancisca
19 de setembro de 2021 às 19:04
Obrigada, querido amigo.
Grande abraço.