Há alguns anos, participando de uma reunião no Santuário Divino Espírito Santo, ouvi de um padre que trabalhava na Amazônia, a seguinte frase: “Quando sobra alguma coisa em algum lugar, falta a mesma coisa em outro”. E deu exemplos. Uns muito ricos (bolsos cheios) e outros muito pobres (bolsos vazios). E até com número de padres essa história se repete, porque aqui há tantos padres e, lá nos confins da Amazônia, quase nenhum. Arrematou.
Esta frase: “Quando sobra em algum lugar, falta em outro”, jamais saiu de minha mente. Porque vejo isso todos os dias.
Nesse período de carnaval, por exemplo. A gastança de dinheiro, bebidas, roupas, fantasias, e a fome de muitos. Mas o povo gosta, mesmo os que passam por situação difícil. Volta a questão: Pão e circo?
Pior, no próprio carnaval, há o lado B, como li numa reportagem de hoje, no Uol (Carnaval Salvador: ambulantes dormem na rua e ficam sem banho e comida (uol.com.br)
O carnaval deve movimentar cerca de 2 bilhões de reais e atrair mais de um milhão de turistas, dinheiro que não acaba mais e turistas se divertindo a mais não poder. Isso é bom.
O lado ruim: nos bastidores da festa, sofrimento. Os ambulantes que precisam trabalhar nessa maravilhosa festa passam por condições humilhantes.
Para garantir uma vaga no circuito Barra-Ondina, eles precisam dormir na rua, nas calçadas, sem qualquer condição de higiene, para garantir seus lugares. Há quem chegue lá dois meses antes. E ali ficam morando, antes e durante o carnaval, no maior sofrimento, para garantir o trabalho e a renda. Além da comida que precisam comprar, devem pagar sete reais para tomar banho, nos estabelecimentos próximos.
Shows caríssimos pagos por prefeituras de cidades pequenas do interior, onde falta de tudo na saúde, na educação, na infraestrutura. Um desses shows foi suspenso, recentemente, pela Justiça, numa cidade do interior da Bahia. (Justiça manda cancelar show de Gusttavo Lima na Bahia (poder360.com.br). O valor a ser pago era incompatível com o orçamento da Cultura, como consta da notícia. Apesar da judicialização da política, que muitos criticam, quem pode pôr fim a esses descalabros?
O povo gosta, vai aos shows, sem nem pensar no prejuízo para eles próprios.
Andando pelo calçadão da Praia da Costa, vejo sempre carros da polícia, parados, ligados, como prontos ao atendimento, mas isso falta nos bairros de periferia, onde vemos, todos os dias, os acontecimentos nefastos.
Outra questão que me assusta: mulheres jovens, com crianças nas ruas, ora vendendo docinhos, um disfarce para pedir. Com a criança, é como se dissesse: olhem, estou precisando para essa criança. A Prefeitura gasta tubos para colocar sinal luminoso, em ruas esburacadas, onde nem gato passa, e não cuida dessas questões. Por que não investem mais em áreas mais urgentes? O serviço social deveria estar mais atento a essas crianças que são exploradas por mães, avós, estranhos etc.
E nem estou falando dos milionários!
O excesso de um é a carência de outro!
Maria Francisca – fevereiro de 2024