Depois de “longo e tenebroso” recolhimento, resolvi ir a São Paulo, para o aniversário de um neto. Alegre e contente, levantei-me antes do cantar do galo, porque o voo estava marcado para 5h10 da matina. E, como se sabe, mesmo com o check-in antecipado, despacho de bagagens, fila, revista etc tomam muito tempo, antes do embarque.
Mal entrei no aeroporto de Vitória, ouvi pelo alto-falante:
– A pandemia ainda não acabou. Use máscara! Não aglomere! Colabore!
Vou andando e ouvindo esses alertas. Entretanto, nas lanchonetes lotadas, todos sem máscara, conversando…
Entro na fila para a revista da bagagem. Tiro as botas, coloco no cesto, tiro relógio, bolsa, tudo ali para passar no raio x. Opa! Algo não deu certo. A moça me chama e diz: A senhora tem um guarda-chuva dentro da bolsa. Pode abri-la, por favor? Lá vou eu procurar o tal guarda-chuva que nem me lembrava de estar ali. Revirei tudo e encontrei uma sombrinhazinha de nada. Abri. Nada dentro. OK, obrigada, disse a moça.
Essa história de revista é uma piada. Eu sempre sou revistada. Por isso, já chego tirando os sapatos e colocando na cesta. Mas nem sempre basta. Tanto que viajo com calça comprida sem zíper, blusa sem botão etc. Mas ainda assim, acontece algo e tenho que ser revistada. Um dia, de tanto procurar o que apitava na minha roupa, exasperada, disse: se quiser, tiro a roupa aqui. Puxa vida, sou alguma bandida? Estão procurando alguém parecido comigo? A moça ficou assustada e me deixou em paz. Saí dali a pensar se não estariam a revisitar a teoria de Lombroso (estrutura do cérebro assim, assado…). Vá entender.
Interessante que passam tantos bandidos, drogas etc. Estamos sempre vendo essas notícias na TV. E o problema sou eu.
Bem. Entro no avião, vejo que as fileiras estão todas cheias. Nem sequer uma cadeira vazia. Eles também não têm que cuidar dos passageiros? Eu tenho que evitar aglomeração? Como evito, se eles que determinam o lugar das cadeiras? Por que podemos ficar juntinhos no avião? Ali dentro, a pandemia acabou? Se acabou, por que preciso de máscara?
Vejo muita hipocrisia nessa história. Não servem nem um café por causa da pandemia, mas posso ficar ali, juntinho das pessoas? Por sinal, a moça que estava no canto da minha fileira estava tomando um suco que não acabava mais. Sem máscara, óbvio
Na saída do avião, “não aglomere”!
Sai todo mundo correndo, no aeroporto aquela confusão de gente…
Hipocrisia é pouco!
Maria Francisca – novembro de 2021.
Edson Lopes
22 de novembro de 2021 às 05:43
Que bom ter você para falar por nós pobres mortais. Se de avião está assim é porque você não viu os ônibus. Essa semana o ônibus estava tão cheio se eu levantasse o pé não conseguiria abaixar de novo. Realmente pura hipocrisia! Os estádios de futebol com 50 mil pessoas e poucas pessoas com máscara. Acho que ali no estádio o vírus não entra. Enfim, você como sempre atenta aos problemas do cotidiano e colocando a boca no trombone. Parabéns por mais essa texto.
mariafrancisca
22 de novembro de 2021 às 09:16
Meu amigo, eu não só imagino, como vi, na porta do ônibus, o pedido para colaborar. Pensei: colaborar, se eles próprios não dão jeito nesse estado de coisas? Por que não colocam mais ônibus pra rodar? O povo que se dane, sempre. Vejo os ônibus que passam aqui na porta do meu prédio. Entupidos.
Daqui a pouco vem o carnaval. Não sei o que será de nós, depois.
Só nos resta reclamar com o bispo, como se diria antes, mas nem o bispo está nos ouvindo, mais…
Grande abraço e obrigada pela leitura e comentário.
Tariane Vitória
22 de novembro de 2021 às 10:05
Dentre tantas leituras sobre direito daqui e dali, suas postagens refrescam o dia. Saudade tia!!!!!
mariafrancisca
23 de novembro de 2021 às 08:29
Refrescam? Rsrs. Mesmo essa em que brigo com os ditos por mim hipócritas?
Fico feliz, minha querida Tariane, que tenha lido e gostado, e tenha, meu texto, servido para aliviar suas tensões. Saudades de você também.
Beijos.
Geraldo de Castro Pereira
26 de novembro de 2021 às 10:11
Francisca, você está uma cronista de escol! Gostei demais de sua crônica. Continue nos encantando com suas maravilhosas peças literárias. Abraços fraternos!
mariafrancisca
26 de novembro de 2021 às 14:55
Meu caro amigo Geraldo, agradecida por sua gentileza, inclusive para as correções, você que é especialista na matéria.
Grande abraço,
Francisca