Hoje li uma bela crônica do meu amigo Quixote das Gerais sobre “O silêncio mais gostoso de ouvir”.
Fui lendo e relembrando as lindas músicas que falam de silêncio, dentre elas, “O silêncio está cantando”, do Padre Zezinho (“O silêncio está cantando uma canção de amor e paz”).
E um “silêncio gostoso de ouvir” se fez sentir no mais profundo do meu ser.
Eu me despedia da Presidência do TRT. Acabara de participar da última reunião do Colégio de Presidentes, em Brasília, mas meu voo de volta pra casa seria apenas à noite.
Então, lembrei-me de despedir de Brasília com uma visita à Igreja de Dom Bosco. Já era minha intenção fazer essa visita há muito tempo. Acessara o google para ver algo sobre a Igreja (Os vitrais da igreja Dom Bosco (Brasília) | Patrimônio belga no Brasil (belgianclub.com.br). Lera, mais ou menos, o seguinte:
O Santuário Dom Bosco, construído em homenagem ao padroeiro de Brasília, São João Belchior Bosco, é uma obra de luz. Suas paredes são formadas por altas colunas que se unem no alto em arcos góticos. Os vitrais com tonalidades de azul com pontilhado branco, partem de tons claros num suave degradê, até atingirem tons mais escuros. Colunas de vitrais róseos complementam a suavidade do local. Do lado de dentro, a sensação é a de se estar sob um céu estrelado. A combinação róseo-azul cria um ambiente de mistério interior.
Pois bem. Tinha tempo, por isso, fui caminhando por aquelas ruas e praças apinhadas de gente trabalhadora, uns cortando cabelo, outros consertando roupas, gente simples, de periferia, penso, diferente daquelas pessoas elegantes que habitam os belos prédios e frequentam os shoppings, perto do hotel onde eu me hospedava.
Brasília é um poço de contradições, como já dissera numa crônica faz tempo.
Caminhei, caminhei, e cheguei à Igreja Dom Bosco. Belíssima! De tirar o fôlego. Entrei pé ante pé, como se estivesse com medo. Uma música suave tocava, não sei saindo de onde. O resto era silêncio. Um silêncio acolhedor, que me obrigou a parar no meio da nave, quieta, como se algo me tolhesse os movimentos. Fiquei ali a olhar para o belo altar, a luz azul fluía, coando raios que se encontravam distantes, nas paredes opostas. Realmente, um ar misterioso tomava conta do ambiente e a sensação era, mesmo, de estar sob um céu estrelado.
Fiquei ali por um bom tempo. Depois, caminhei devagar e fui sentar-me num dos bancos, extasiada, os olhos fixos naquela luz, minha alma sentindo o silêncio que parecia cantar, pedindo paz, como na música do Padre Zezinho.
Ninguém apareceu. E eu, agradecida por estar sozinha, sem perceber, comecei a rezar em voz alta, suavemente, para agradecer a Deus pelos dons que recebera em toda a vida. Minha voz saia entrecortada, como se eu tremesse, tamanha a emoção de estar diante do Mistério. Fiquei naquela postura longo tempo, perdida nas minhas orações, o coração alegre e agradecido, tanto, tanto, que mal observei que os tons azulados começavam a modificar-se.
Acordei daquele êxtase, quando percebi que o dia estava escurecendo e daí a pouco eu estaria num voo, de volta ao Espírito Santo. Saí apressada, ainda com aquela gostosa sensação de paz que só se desfez quando entrei no avião, em face do vozerio dentro da aeronave.
Não mais retornei a Brasília, mas uma lágrima teima em escapar quando me lembro desse meu silêncio naquela bela igreja.
Maria Francisca – Fevereiro de 2022.
HELIO MARIO DE ARRUDA
13 de fevereiro de 2022 às 20:53
Comovente! Um momento de oração e de comunhão!
mariafrancisca
6 de março de 2022 às 17:58
Pois é, Helio. Momento inesquecível.
Grata pela leitura e comentário.
Grande abraço.
Euler Oliveira
14 de fevereiro de 2022 às 04:52
Adorei. Com a leitura me senti presente na Igreja.
Parabéns
mariafrancisca
6 de março de 2022 às 17:57
Que bom Euler.
Obrigada pela leitrua e comentário.
Grande abraço.
Attilio Carattiero
14 de fevereiro de 2022 às 08:42
Respondi ao autor no dia da publicação no blog dele, sobre a epifania encontrada no silêncio. A mesma que os poetas sempre têm mais no imediato das coisas e acontecências da vida. Feliz de você que tem tais lentes. Veja resposta minha no blog dele. Vale para você também, Francisca. Parabéns.
mariafrancisca
6 de março de 2022 às 17:57
Eu mandei cópia para Leandro, grande escritor esse Quixote das Gerais.
Obrigada, Attílio.
Grande abraço.
Attilio Carattiero
14 de fevereiro de 2022 às 09:11
A resposta está no seu whatsapp. Deu pau no meu aparelho… Ou na minha cabeça. Parabéns pelo seu achado na Igreja de Brasília.
mariafrancisca
6 de março de 2022 às 17:56
Você, como sempre, lembra de tudo. Obrigada. Grande abraço.
John Aluisio Uliana
14 de fevereiro de 2022 às 11:03
Que lindo e emocionante
mariafrancisca
6 de março de 2022 às 17:55
Obrigada, meu caro amigo. Um abraço.
Geraldo de Castro Pereira
14 de fevereiro de 2022 às 19:01
Muito legal sua crônica! Espero nos brindar com muitas outras! Parabéns! Abraços fraternos!
mariafrancisca
6 de março de 2022 às 17:55
Obrigada, caro amigo Geraldo. Um abraço.
Roberto Vasco
19 de fevereiro de 2022 às 21:50
Crônica maravilhosa que nos transmitiu a mesma paz.
E pernoitei em Brasília, quando vinha de Belém, procedente de Carajás. Também viajaria de volta para vitória com escala em BH. Mas, tive muito pouco tempo disponível. Dei uma ida rápida naquele shopping próximo do hotel onde estava hospedado, nas não deu para passear muito. Um dia quem sabe vou nessa igreja em busca dessa doce paz!
mariafrancisca
6 de março de 2022 às 17:55
Caro amigo, se tiver oportunidade, vá, sim, a essa igreja. Vai gostar. Grata pela leitura e comentário gentil.
Um abraço.