“O censor em mim saúda o censor em você.”
Giovana Madalosso
De vez em quando, ouço alguém falar que não lê isso ou aquilo ou que não assiste a determinados canais de tv, ou ouve alguma emissora de rádio, ou mesmo lê determinado um livro. E, pior, se você fala que lê, vê ou ouve os criticados, é um susto: Nossa! Tem coragem? Ou, pior: Estão “enfiando” ideias em sua cabeça.
Se a pessoa é minha amiga, converso. Explico: leio de tudo que penso valer a pena, da mesma forma, assisto a tudo, mas não “engulo” o que leio. Tenho senso crítico e aprendi desde criança a avaliar as minhas leituras. É ficção? É real? De onde vem isso? É novo? De que lado está esse escritor/escritora? É fanático? Porque todos sabemos que tudo depende de nossa vivência. De nossas relações com o mundo. De nossa educação. Como diz Leonardo Boff, “todo ponto de vista é a vista de um ponto”.
Dependendo do “implicante”, calo-me. Vou discutir com quem quer apenas impor seu ponto de vista?
Às vezes, faço-me de boba. Ah! Não se pode ver esse canal? Por quê? Qual posso ver? Qual é bom? Ah! Esse canal que fala isso e aquilo? Vou ver, então. A pessoa fica satisfeita e me deixa em paz.
Quando falam de política, então, fujo, não quero tratar de política. Ninguém discute sem paixão. E acaba ofendendo quem não concorda com suas ideias, por mais estapafúrdias que sejam. As ideias são dele, ninguém pode “roubá-las”. Se alguém tenta fazer algo diferente dele, é xingado, odiado…
Aqui entra a questão do Narciso.
A sociedade moderna fez com que “o espelho se tornasse o principal acessório do eu e a condição primeira de nosso processo de individualização. Eu, minha sombra, torna-se agora uma equação a três termos: sombra, minha e eu. É a sombra e o sentimento de propriedade sobre ela”, disse o Psicanalista Christian Dunker, (24.05.2022), na Folha.
O pior de tudo, na dicção do Psicanalista, é que o Narciso moderno precisa que o vejam. Daí vem o sentimento de dominação em relação a quem o vê. Como ele não consegue escutar, quem o ignora passa a ser seu inimigo. Eu conquistei alguns assim.
Carlos Heitor Cony (A casa do poeta trágico) conta a história do lorde inglês e seu mordomo James. Os dois estavam diante do janelão, olhando a paisagem da verde Inglaterra, quando James, hierático, ao lado da cadeira de rodas onde ficava seu amo e senhor, disse, para dizer alguma coisa: ‘”Acho que teremos chuva, my lord“. O lorde continuou olhando a paisagem, mas colocou as coisas em seu devido lugar: “Não, meu caro James. Eu terei a minha chuva. Você terá a sua chuva”’.
Então, fico com minha chuva, e deixo a dos outros para os James da vida, como disse Cony.
Maria Francisca – setembro de 2023
Geraldo de Castro Pereira
23 de setembro de 2023 às 09:27
Crônica maravilhosa, repleta de ensinamentos! Parabéns! Gostei muito! Continue nos encantando com suas belas crônicas. Abraços cordiais!.
mariafrancisca
23 de setembro de 2023 às 17:56
Meu caro amigo Geraldo, você sempre me prestigiando. Obrigada pelo carinho.
Se quiser publicar seus poemas aqui, é só me dizer.
Grande abraço.
Um abraço.