Hipster? Eu, Hein?
Nunca gostei de pintar os cabelos. Um trabalhão! Mas não queria ficar de cabelos brancos. Só dizia que aos setenta anos, acabaria com essa chateação.
Alguns falavam, mais as mulheres, por que você não clareia seus cabelos? Eu fazia uma brincadeira: Eu? Não quero ficar de uniforme. De uniforme, como é isso? Não dizem que as mulheres não envelhecem, ficam loiras?
Ríamos e a história acabava.
Só que cheguei aos setenta, passei dos setenta…e nada de deixar os cabelos brancos.
Um dia, acordei e decidi: vou deixar meus cabelos brancos. Fui deixando e gostando da experiência.
Fui a alguns eventos, tirei fotos, e fui me acostumando. De vez em quando, alguém me dizia: Ah! Entrando na onda…
Eu já andava aborrecida com esses comentários.
Hoje, li na “Folha” um artigo de Marcelo Viana, muito interessante sobre os hipsters: “Matemática explica o paradoxo ‘hipster”. Disse ele: (…) um certo número de inconformistas (hipsters), que rejeitam o padrão da maioria, frequentemente leva a que os inconformistas gradualmente sincronizem suas atitudes de tal forma que acabam adotando comportamentos idênticos, criando um novo tipo de conformismo”.
E contou um fato, mais ou menos assim:
Um homem que se considerava inconformista ameaçou processar a revista da “MIT Technology Review” acusando-a de ter usado como ilustração, sem autorização, uma foto roubada das suas redes sociais. A foto utilizada na publicação, entretanto, fora adquirida legalmente, e estava em seu estoque. Representava um hispter de barba, usando uma camisa estampada de flanela e um gorro de lã. Os dois homens e seus visuais eram idênticos! Mas não era ele, o revoltado.
Querendo ficar diferente, ficou igual.
Comigo estava ocorrendo a mesma coisa. A diferença é que não sou nenhuma inconformada. Quem quiser ficar de cabelo preto, branco, azul, que fique. Então, hipster não sou.
Eu não queria ficar de “uniforme, mas estava na onda de outras mulheres que resolveram fazer moda com os cabelos grisalhos. Ai, fui alertada por minha filha e caí na real. Afe!
Comecei a me achar triste ao espelho, achar defeito nos cabelos brancos que, até aquele momento estavam lindos, olhava, olhava e pensava. Ora achava-os bonitos, as pessoas estão elogiando, ora achava-os feios.
Até que saí de casa, sem pensar muito, e fui à cabeleireira.
Pintei, cortei e voltei feliz. Fui depressa ao espelho.
Depois da sua aprovação, raciocinei. Fiquei igual, de novo. Opa!
E, daí? Não sou hipster…
Maria Francisca – Janeiro de 2023.