“Psiu! Há vida do lado de cá
As árvores balançam
Tem sol, tem céu e tem mar.
Tem gente também,
Além de um cãozinho
E um celular.”
Logo cedo, recebi um vídeo com a voz a Carmem Miranda, cantando uma música que foi sucesso há muitos e muitos anos, de autoria de Assis Valente: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torradas ele bebeu parati (…) Tirou o anel de doutor para não dar o que falar (…)” … Acabei de ver o vídeo e saí para caminhar no calçadão, pensando naquela bela voz que durou pouco. Quanta gente gravou essa música depois!
Fui me encontrando com pessoas com seu cachorrinho pela coleira e um celular à mão, teclando ou falando. O cachorrinho cheira uma coisa, cheira outra, a corda estica, a corda encurta e lá vão eles, como se o mundo fosse só aquilo. De vez em quando, um esbarro, uma corda comprida que impede sua passagem, mas aqueles senhores, senhoras, ou senhoritas pensam que seus lindos totós são mais importantes do que as pessoas que por ali trafegam. Às vezes é o celular que atrapalha. A pessoa fica tão distraída teclando ou falando que se esquece de que está numa via pública. Correm até o risco de atropelamento.
Pior, mesmo, é quando não cuidam dos excrementos de seus pets. De vez em quando, perco tempo observando. Olham para um lado, para outro, ninguém olhando. Disfarçam e vão saindo de fininho e lá vão ficando os excrementos para desespero de quem, inadvertidamente, pisa naquela coisa. Sou cuidadoso, correto, se alguém estiver vendo? Sozinho, não preciso ter respeito ao coletivo? Há outros que nem se importam se alguém vê. Uma senhora, por exemplo, que passa sempre na minha rua com seu cãozinho, advertida pelo faxineiro de um prédio de que não poderia jogar o excremento ali, sob uma árvore, porque não era hora de passar o caminhão do lixo, respondeu, brava e “cheia de razão”: Pago meus impostos, então posso deixar o cocô onde quiser.
Uma amiga me disse que tem inveja dos americanos, porque queria ter nascido num país onde as pessoas cuidam do coletivo. Onde as ruas são limpas. Eu disse que a questão é que nosso povo ainda não se deu conta de que a rua é também dele. Nosso problema é pensar que a coisa publica é de ninguém. Então, pode-se fazer ali o que quiser e até vandalizar, como fazem com as lixeiras que não param. Furtam, riscam, estragam.
E os cachorrinhos, que de nada sabem, vão por ali, fazendo a parte deles, enquanto os donos não se “tocam” e deixam que eles emporcalhem as ruas. Só tocam nos celulares.
Andando e pensando, esbarro numa plaquinha no calçadão com os dizeres: “Cuidado! Cocô de um cachorro Porco. Obs. O dono”. Não tive dúvida: peguei o celular (que pra isso uso) e tirei a foto que posto acima.
Melhor, mesmo, é ir escutar de novo a música, porque cachorrinho e celular, dessa forma maluca, não são comigo. Prefiro vestir uma camisa listrada e sair por aí…
Maria Francisca – fevereiro de 2017
Maria Wilma de Macedo Gontijo
22 de março de 2017 às 02:29
Francisca: mais uma delícia de crônica com que você nos brinda.Começamos com a Carmem Miranda cantando Camisa Listrada. Ah! Belos tempos de outrora em que não havia celular e os cachorros ficavam nos quintais das casas e os “lulus” dentro das casas, nenhum cachorro porco fazendo cocô nas calçadas.
Maria Wilma de Macedo Gontijo
22 de março de 2017 às 02:30
Francisca: mais uma delícia de crônica com que você nos brinda.Começamos com a Carmem Miranda cantando Camisa Listrada. Ah! Belos tempos de outrora em que não havia celular e os cachorros ficavam nos quintais das casas e os “lulus” dentro das casas, nenhum cachorro porco fazendo cocô nas calçadas.
mariafrancisca
25 de março de 2017 às 10:50
Oi, Maria Wilma.
Que bom ter você por aqui. Obrigada pela leitura e pelo comentário.
Pois é, temos saudades dessas músicas que marcaram época.
Beijos.
Janice
22 de março de 2017 às 10:22
Comadre, seus escritos sempre fazem um bem para alma, a gente chora, ri, reflete… Muitas é preciso realmente vestir uma camisa listrada e sair cantando . Obrigado pelo texto. Parabéns pela facilidade de expressão. Deus lhe abençoe.
mariafrancisca
25 de março de 2017 às 10:51
Olá, minha querida comadre.
Saudades de você.
Obrigada pelo carinho de sempre.
Beijos.
Rosa Cardoso
22 de março de 2017 às 12:07
Minha Amiga Francisca, sempre nós presenteando com suas cronicas maravilhosas. Tomei a liberdade de copiar uma parte da cronica e publicar na minha pagina no facebook dando um puxãozinho de orelha naqueles que não pensam no coletivo e que o serviço publico é responsável por tudo, inclusive limpar o lixo de sua porta e as caquinhas de seus pets. Sempre mantive a porta de minha casa limpa e varrida, mas sou olhada com desdém, afinal estou fazendo algo que a administração publica “esta obrigada”
Obrigada por mais esse presente.
Abraços
mariafrancisca
25 de março de 2017 às 10:53
Minha amiga Rosa. Fico feliz que minha crônica tenha servido para você fazer essa postagem.
E tem razão. Se ficarmos esperando que o poder público faça tudo, estamos perdidos. Vamos fazendo a nossa parte. Está de parabéns.
Beijos.
Tariane
22 de março de 2017 às 12:50
Adorei a crônica tia, descrição perfeita da nossa realidade. A falta de respeito e a total perda do bom senso caminha livremente pela ruas, junto com os cachorros, os celulares e seus donos.
Tariane
22 de março de 2017 às 12:52
Adorei a crônica tia, descrição perfeita da nossa realidade. A falta de respeito e a total perda do bom senso caminham livremente pela ruas, junto com os cachorros, os celulares e seus donos.
mariafrancisca
25 de março de 2017 às 10:54
Tatá, querida, obrigada.
Beijos.
Edson Lopes
23 de março de 2017 às 11:11
Estava mesmo faltando uma crônica sobre esses “donos porcos, ou, porcos Donos”. Mais uma vez a sua percepção nos saboreia com mais um bom tema. Além de nos brindar com uma possível música quem sabe nesses primeiros versos.
“Psiu! Há vida do lado de cá
As árvores balançam
Tem sol, tem céu e tem mar.
Tem gente também,
Além de um cãozinho
E um celular.”
Quem sabe surgi aí uma também compositora!
mariafrancisca
25 de março de 2017 às 10:55
Edson, meu amigo, quem sou eu para ser compositora… Quem dera.
Não vou além das sandálias, como disse Apelles.
Obrigada e um abraço.
Arildo
24 de março de 2017 às 23:23
Muitas vezes tem gente que me vê cabisbaixo andando na calçada, sem a pensar do jeito que tu andas, mas eles não sabem que estou com cautela para não pisar em um desses cocôs!
Parabéns, Francisca, sua crônica vem bem a calhar num momento bem oportuno aos acontecimentos no Brasil.
mariafrancisca
25 de março de 2017 às 10:56
Eu, Arildo, afoita, de vez em quando tenho que tirar os sapatos antes de entrar no prédio, porque estão emporcalhados.
Obrigada pela leitura e pelo comentário.
Meu abraço.
Marcos Federici
13 de abril de 2017 às 16:08
Boa tarde!!! Achei a “crônica” genial! Muitos donos de cachorros precisando ler isso! Vejo muitas pessoas, que saem para passear com seus cachorros e que não se preocupam com o lugar onde eles vão deixar seus excrementos! Com certeza, nunca vi nenhum deixando que fizessem defronte suas próprias casas.
Parabéns Dra. pelas “crônicas”! Vou me deleitar com todas!! rsrsrs
Abraços “M.C”!!