Cuidado! Cocô de cachorro. - Maria Francisca

 21 de março de 2017 

 

“Psiu! Há vida do lado de cá

As árvores balançam

Tem sol, tem céu e tem mar.

Tem gente também,

Além de um cãozinho

E um celular.”

Logo cedo, recebi um vídeo com a voz a Carmem Miranda, cantando uma música que foi sucesso há muitos e muitos anos, de autoria de Assis Valente: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torradas ele bebeu parati (…) Tirou o anel de doutor para não dar o que falar (…)” … Acabei de ver o vídeo e saí para caminhar no calçadão, pensando naquela bela voz que durou pouco. Quanta gente gravou essa música depois!

Fui me encontrando com pessoas com seu cachorrinho pela coleira e um celular à mão, teclando ou falando. O cachorrinho cheira uma coisa, cheira outra, a corda estica, a corda encurta e lá vão eles, como se o mundo fosse só aquilo. De vez em quando, um esbarro, uma corda comprida que impede sua passagem, mas aqueles senhores, senhoras, ou senhoritas pensam que seus lindos totós são mais importantes do que as pessoas que por ali trafegam. Às vezes é o celular que atrapalha. A pessoa fica tão distraída teclando ou falando que se esquece de que está numa via pública. Correm até o risco de atropelamento.

Pior, mesmo, é quando não cuidam dos excrementos de seus pets. De vez em quando, perco tempo observando. Olham para um lado, para outro, ninguém olhando. Disfarçam e vão saindo de fininho e lá vão ficando os excrementos para desespero de quem, inadvertidamente, pisa naquela coisa. Sou cuidadoso, correto, se alguém estiver vendo? Sozinho, não preciso ter respeito ao coletivo? Há outros que nem se importam se alguém vê. Uma senhora, por exemplo, que passa sempre na minha rua com seu cãozinho, advertida pelo faxineiro de um prédio de que não poderia jogar o excremento ali, sob uma árvore, porque não era hora de passar o caminhão do lixo, respondeu, brava e “cheia de razão”: Pago meus impostos, então posso deixar o cocô onde quiser.

Uma amiga me disse que tem inveja dos americanos, porque queria ter nascido num país onde as pessoas cuidam do coletivo. Onde as ruas são limpas.  Eu disse que a questão é que nosso povo ainda não se deu conta de que a rua é também dele. Nosso problema é pensar que a coisa publica é de ninguém. Então, pode-se fazer ali o que quiser e até vandalizar, como fazem com as lixeiras que não param. Furtam, riscam, estragam.

E os cachorrinhos, que de nada sabem, vão por ali, fazendo a parte deles, enquanto os donos não se “tocam” e deixam que eles emporcalhem as ruas.  Só tocam nos celulares.

Andando e pensando, esbarro numa plaquinha no calçadão com os dizeres: “Cuidado! Cocô de um cachorro Porco. Obs. O dono”. Não tive dúvida: peguei o celular (que pra isso uso) e tirei a foto que posto acima.

Melhor, mesmo, é ir escutar de novo a música, porque cachorrinho e celular, dessa forma maluca, não são comigo.  Prefiro vestir uma camisa listrada e sair por aí…

Maria Francisca – fevereiro de 2017

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15 comentários


  1. Maria Wilma de Macedo Gontijo
    22 de março de 2017 às 02:29

    Francisca: mais uma delícia de crônica com que você nos brinda.Começamos com a Carmem Miranda cantando Camisa Listrada. Ah! Belos tempos de outrora em que não havia celular e os cachorros ficavam nos quintais das casas e os “lulus” dentro das casas, nenhum cachorro porco fazendo cocô nas calçadas.


    • Maria Wilma de Macedo Gontijo
      22 de março de 2017 às 02:30

      Francisca: mais uma delícia de crônica com que você nos brinda.Começamos com a Carmem Miranda cantando Camisa Listrada. Ah! Belos tempos de outrora em que não havia celular e os cachorros ficavam nos quintais das casas e os “lulus” dentro das casas, nenhum cachorro porco fazendo cocô nas calçadas.

      • Oi, Maria Wilma.
        Que bom ter você por aqui. Obrigada pela leitura e pelo comentário.
        Pois é, temos saudades dessas músicas que marcaram época.
        Beijos.

  2. Comadre, seus escritos sempre fazem um bem para alma, a gente chora, ri, reflete… Muitas é preciso realmente vestir uma camisa listrada e sair cantando . Obrigado pelo texto. Parabéns pela facilidade de expressão. Deus lhe abençoe.

  3. Minha Amiga Francisca, sempre nós presenteando com suas cronicas maravilhosas. Tomei a liberdade de copiar uma parte da cronica e publicar na minha pagina no facebook dando um puxãozinho de orelha naqueles que não pensam no coletivo e que o serviço publico é responsável por tudo, inclusive limpar o lixo de sua porta e as caquinhas de seus pets. Sempre mantive a porta de minha casa limpa e varrida, mas sou olhada com desdém, afinal estou fazendo algo que a administração publica “esta obrigada”

    Obrigada por mais esse presente.

    Abraços

    • Minha amiga Rosa. Fico feliz que minha crônica tenha servido para você fazer essa postagem.
      E tem razão. Se ficarmos esperando que o poder público faça tudo, estamos perdidos. Vamos fazendo a nossa parte. Está de parabéns.
      Beijos.

  4. Adorei a crônica tia, descrição perfeita da nossa realidade. A falta de respeito e a total perda do bom senso caminha livremente pela ruas, junto com os cachorros, os celulares e seus donos.

  5. Adorei a crônica tia, descrição perfeita da nossa realidade. A falta de respeito e a total perda do bom senso caminham livremente pela ruas, junto com os cachorros, os celulares e seus donos.

  6. Estava mesmo faltando uma crônica sobre esses “donos porcos, ou, porcos Donos”. Mais uma vez a sua percepção nos saboreia com mais um bom tema. Além de nos brindar com uma possível música quem sabe nesses primeiros versos.

    “Psiu! Há vida do lado de cá

    As árvores balançam

    Tem sol, tem céu e tem mar.

    Tem gente também,

    Além de um cãozinho

    E um celular.”

    Quem sabe surgi aí uma também compositora!

    • Edson, meu amigo, quem sou eu para ser compositora… Quem dera.
      Não vou além das sandálias, como disse Apelles.
      Obrigada e um abraço.

  7. Muitas vezes tem gente que me vê cabisbaixo andando na calçada, sem a pensar do jeito que tu andas, mas eles não sabem que estou com cautela para não pisar em um desses cocôs!

    Parabéns, Francisca, sua crônica vem bem a calhar num momento bem oportuno aos acontecimentos no Brasil.

    • Eu, Arildo, afoita, de vez em quando tenho que tirar os sapatos antes de entrar no prédio, porque estão emporcalhados.
      Obrigada pela leitura e pelo comentário.
      Meu abraço.

  8. Boa tarde!!! Achei a “crônica” genial! Muitos donos de cachorros precisando ler isso! Vejo muitas pessoas, que saem para passear com seus cachorros e que não se preocupam com o lugar onde eles vão deixar seus excrementos! Com certeza, nunca vi nenhum deixando que fizessem defronte suas próprias casas.

    Parabéns Dra. pelas “crônicas”! Vou me deleitar com todas!! rsrsrs

    Abraços “M.C”!!

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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