Elevo meus olhos ao alto e vejo-te. Elegante, altivo, quase petulante. Imagino-te longe, bem longe, distante dos mortais, tamanha a tua beleza e imponência.
Crio coragem e resolvo visitar-te.
Subo aquela ladeira de pedra, a famosa Ladeira da Penitência, passo a passo, chego cansada ao alto, mas extasiada pela beleza do lugar. Olho ao redor, vejo o Exército, a Marinha, a Ponte, sigo o olhar para Vitória, seu belo mar, retorno o olhar para o Morro do Moreno. Só beleza.
Subo a escadaria, olho para o outro lado e vejo Vila Velha, seu mar, suas praias.
Fico ali pasma, banzando!
Entro na igreja. Sem sentir, ajoelho-me diante do altar. Tudo é silêncio, convite à oração. O coração aquieta-se, e penso em Maria: Nossa Senhora da Penha. Nossa Senhora das Alegrias está na Igrejinha de São Francisco, no Campinho.
A curiosidade, junto à religiosidade adquirida desde a infância, instiga o desejo de conhecer a tua história, Convento da Penha! Pois já não estás tão distante. Pareces amigo.
Na Prainha, onde o Espírito Santo começou, morava Frei Pedro Palácios, numa gruta.
Nasceste de um sonho desse frade franciscano, pela sua devoção à Nossa Senhora das Alegrias, cujo quadro trouxe da Europa e foi colocado na Igrejinha de São Francisco, lugar onde escolheu ficar, segundo a lenda. Diz-se que o quadro sumiu algumas vezes e sempre aparecia no alto do morro, entre duas palmeiras. Frei Pedro decidiu, então, que ali deveria construir uma capela, onde foi pendurada a pintura.
Depois, foste construído, sobre este penhasco, e uma grande imagem de Maria, trazida de Portugal pelo mesmo Frei, fora colocada, com o nome de Nossa Senhora da Penha.
O escritor e historiador Francisco Aurélio afirmou que o nome foi dado pelo povo, uma vez que a igreja ficava sobre um rochedo, ou seja, na penha. Quem ia ao Convento dizia, segundo ele: Vou à igreja que fica na penha. E Maria recebeu o nome de Nossa Senhora da Penha, e tu ficaste com este belo nome: Convento da Penha, guardado, desde sempre, pelos Franciscanos, devotos, como São Francisco, de Nossa Senhora das Alegrias.
Ficaste tão famoso com Nossa Senhora da Penha que todos os anos há uma festa que atrai centenas de milhares de pessoas, de todos os cantos do Estado e do País, para louvar Maria e, dizem, é a terceira festa religiosa mais importante do Brasil.
Hoje, moro em Vila Velha e vejo-te como amigo. Belo como sempre, mas perto, bem perto de mim, para admirar-te quando olho para o alto, ou quando te visito, subindo, arfando, tuas ladeiras, sempre em oração, aproveitando os momentos de paz e alegria, e daquela bela floresta que te rodeia, sempre sob os auspícios de Nossa Senhora das Alegrias.
Vejo as cidades e admiro os prédios, as ruas, os mares… Faço minhas orações, contemplo o mundo, penso na vida, nos humanos e seus mistérios.
E sinto-me no céu.
Maria Francisca – Do livro: Nossas Cidades: Corpo e Alma (2020).
Foto de Mario Vanzan
Edson Lopes
2 de junho de 2021 às 11:09
Parabéns mais uma vez. Eu já conhecia a lenda(história),mas contada por você tem um significado diferente e uma leitura deliciosa.
mariafrancisca
11 de junho de 2021 às 10:58
Obrigada, caro amigo. Você é dos leitores que sempre me prestigiam. Grande abraço.
Geraldo de Castro Pereira
2 de junho de 2021 às 12:55
Bela crônica, Francisca! É lindo mesmo o Convento da Penha! Parabéns pélo texto e meus aplausos!
mariafrancisca
11 de junho de 2021 às 10:56
Pois é, Geraldo, como VIla Velha é meu chão, amo esta Cidade, amo mais, ainda, esse belo cartão postal. Obrigada pela leitura e comentário.
mariafrancisca
11 de junho de 2021 às 10:57
Obrigada, Geraldo. Grande abraço.
Antônio de Carvalho Pires
2 de junho de 2021 às 23:54
Bela crônica! Linda história! O convento da Penha é simplesmente fascinante, visto de qualquer lugar. Lá em cima, ao meu sentir, se tem a vista mais bela da cidade de Vutoriae Vila Velha. Parabéns Dra Francisca!
mariafrancisca
11 de junho de 2021 às 10:55
Obrigada, caro amigo. Nosso cartão postal é lindo, mesmo. Grande abraço.