Amigos e o Cometa Halley - Maria Francisca

 28 de maio de 2022 

Para Matheus Pertence

Vou à varanda e fico admirando aquela chuvinha fina. Sempre tive uma espécie de fascinação por esse tipo de chuva. Fico ali a cismar.  Revendo minhas memórias. Repassando lembranças amigas.   E começo a pensar nos amigos que partiram, como disse, Rolando Boldrin, “antes do tempo combinado” e de muitos que ainda estão por aqui, mas sumiram. Uns, por puro esquecimento. Outros, porque eram simplesmente nossos conhecidos. Há, também, os amigos da onça, como bem expressava o chargista Péricles, na antiga revista “O Cruzeiro”.

Quando exercíamos um cargo dito importante, os “amigos”, aqueles com “aspas” mesmo (da onça), aproximavam-se para ficar perto do poder. Então, somem, sem deixar lembrança ou herança. Os rapapés começam pelo cargo e terminam com o cargo. Não fazem falta alguma.

E a vida segue.

Quando terminamos um curso, seja de graduação, mestrado ou outro, nossos interesses mudam. Nem sempre são os mesmos dos nossos ex-colegas. Então, normal que muitos se afastem depois de um certo tempo.  A mesma coisa quando nos aposentamos.

Aqueles amigos de infância e colegas de escola, de faculdade, cuja amizade ficou para trás, cada qual no seu caminhar, onde não cabem mais aqueles colegas de outrora. Às vezes aparecem, para, em seguida, sumirem de novo.

Quanto aos amigos que fizemos e que nos fizeram…Bem. Esses são eternos.

Alguns, depois de longa data, surgem por encanto. Um reencontro para a amizade há muito adormecida, que renasce, pura e bela. Porque eram amigos, mesmo. Não meros colegas.

Eu tenho amigos de todas as tribos, de todos os jeitos.  Uns mais falantes, outros mais calados, todos muito queridos. Mas tenho um tipo que eu chamo de Cometa Halley. Brilham muito quando aparecem, mas apenas a cada 75/76 anos.

É uma festa. Uma alegria só.  Digo aparecem, mas não é aparecer fisicamente, não. É responder a uma mensagem, pelo menos.

E, ainda, têm a “coragem” de dizer: Estava morrendo de saudades… Aí, começo meu discurso de brincadeira: Saudades? Sei… E se não tivesse saudade, então?

Mas muitos têm atividades mil e, realmente, não têm muito tempo. Outros, porque são mais desligados, mesmo, ficam na deles, esquecem os compromissos.

Amizade para eles é presença, mesmo na ausência.

Mas são amigos. Pessoas com quem você pode contar e que contam com você, quando se trata de oferecer um conforto ou um aplauso.  Se você chora, choram junto. Se você sorri, sorriem junto. Não estão perto de você porque você lhes é útil, mas porque gostam de você de verdade. São pessoas lindas, queridas e amadas.

A amizade é discreta, uns dias intensa, outros de longe, só aguardando a vez, sem possessividade, sem insistência. É um amor suave.

É preciso compreender:  cada um tem o seu jeito de amar, de ser amigo.

Como disse Padre Zezinho, “Amizade talvez seja isto: Um jeito discreto de amar!”

Maria Francisca – maio de 2022

 

 

 

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6 comentários

  1. Mais uma bela crônica, confreira Francisca! Vc. se tornou uma exímia cronista! Meus parabéns! Bom domingo e abraços fraternos!

    • Meu amigo Geraldo, você é muito generoso. Obrigada pelos seus registros em meu blog.
      Bom domingo pra você, também.
      Abraço fraterno.

  2. Gostei demais desse seu novo texto. Descrição perfeita dos nossos amigos. Já tive também alguns parecidos com os seus. Mas quero saber mesmo em qual deles eu me encaixo? Amigo bom dia e amigo Boa noite? Bjs❤

    • Respondo duas vezes, também…Rsrs.
      Você é o amigo de fé, o irmão, camarada…Rsrs.
      Para isso, posso plagiar Roberto Carlos…
      Um abraço.

  3. Como sempre um excelente texto. Já tive,assim como você alguns amigos desse tipo! Mas eu quero saber mesmo é qual deles eu me encaixo? Além de amigo bom dia e boa noite. Bjs ❤

    • Pra ter certeza, você comentou duas vezes, né, Edson? Você não é amigo de bom dia, boa noite! É um amigo presente, sempre. Responde às minhas mensagens, atencioso, gentil e disposto a ajudar quando necessário, sem cobranças.
      Obrigada por ser meu amigo.
      Grande abraço.

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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