“Quando o rei eu vejo, bocejo”
Maria Francisca – “Uns são mais iguais”
Era dos direitos? E dos deveres? Nada?
Norberto Bobbio, em seu belo livro “A era dos Direitos” fala da dimensão desses direitos e da democracia, como sistema propício à sua realização. Já no livro “Diálogos em torno da República”, o filósofo Maurizio Viroli, pergunta a Bobbio: Você acrescentaria a esse livro um ensaio sobre a necessidade do dever? Ao que ele responde simplesmente que a reivindicação do direito foi uma resposta ao despotismo. Foi uma necessidade de defender-se da opressão e da prepotência. E complementa que, se ainda tivesse alguns anos de vida, tentaria escrever “A era dos deveres”.
E fico a pensar no nosso tempo. Uma época difícil. Mas estamos precisando nos defender de quê? Vivemos numa democracia. Mas vemos cada vez mais isto: só nós temos direitos. Os outros, não. E os deveres? Ora, os deveres. Será?
Isso me faz lembrar um senhor que foi meu colega no antigo INPS.
No final dos anos 60, o INPS pertencia ao Ministério do Trabalho e Previdência Social. Então, no mesmo local do INPS, funcionava o setor de emissão de Carteiras do Trabalho. Quem cuidava desse trabalho, era Serafim (de saudosa memória), um senhor muito cioso de suas obrigações. Espirituoso, gostava de brincar com as pessoas que atendia, gentil com todos, mas muito rigoroso. Só emitia a carteira, se os documentos estivessem todos em ordem. Se a pessoa insistia, dizendo que precisava com urgência da carteira, ele dizia: Você quer que eu seja bonzinho pra você, não é? Mas aí eu seria ruinzinho para mim e isso não vou ser.
E se alguém dizia, choroso, estou precisando, senão não vou conseguir meu emprego, estou em dificuldade, ele dizia: Você está abusando do direito de ser fraco. E não atendia o pedido, sem que estivessem cumpridas todas as exigências.
Nós queremos tudo, mas sem nos comprometermos com nada. Será isso? Será a hora de pensarmos na “Era dos deveres”?
E, novamente, o diálogo entre Bobbio e Viroli. À pergunta do segundo sobre o dever do cidadão, Bobbio responde: ‘O dever de respeitar os outros. A superação do egoísmo pessoal. Aceitar o outro. A tolerância aos outros. O dever fundamental é dar-se conta de que você vive em meio aos outros”. E quanto aos governantes? “O senso do Estado, ou seja, o dever de buscar o bem comum e não o bem particular ou individual”.
Então, como conviver com tantos problemas no Brasil, apesar de vivermos numa democracia? Nessa nossa democracia, onde mais vale ser amigo do rei? E há amigos do rei que enchem a boca para falar de assunto ou atitude que diz ser republicana (palavra desgastada pelo mau uso) que imagino: ele/ela nem deve saber o significado da palavra.
Nós, por outro lado, vamos nos acostumando com isso e também vamos buscando nossos jeitinhos de resolver tudo nessa base e queremos nossos direitos, sem pensar nos deveres. Passamos a considerar que, se precisamos de algo, vamos arranjar uma forma de consegui-lo, nem que seja vendendo nossa alma ao diabo: votando em quem não pensa no bem comum, para não dizer coisa pior, se esse “diabo” pode nos proporcionar algum favor. E a democracia e a república passam a ser a palavra da moda: a pós-verdade.
Precisamos, ora…E no beija-mão do rei, conseguimos. E se não conseguimos, continuamos chorosos, sem fazer a nossa parte.
Abusamos de nossa fraqueza, portanto, como dizia o Velho Serafim.
Maria Francisca – junho de 2017.
Alda
25 de junho de 2017 às 12:54
Querida Francisca
Boas colocações!
Neste momento é preciso lembrar os deveres de cada um e que cada direito corresponde a uma obrigação.
Parabens pelo excelente artigo!
Estávamos sentindo falta.
Bjus
Alda
mariafrancisca
8 de julho de 2017 às 18:38
Alda, esse foi postado porque você sentiu falta dos meus posts. Estava com muito trabalho e muita preguiça, também…rsrs. Obrigada, querida. Beijos.
Ricardo Gueiros
25 de junho de 2017 às 17:44
Adorei!! Perfeito!!
mariafrancisca
8 de julho de 2017 às 18:37
Obrigada, querido. Saudades de você. Tão longe…
Edson Lopes
25 de junho de 2017 às 18:15
Como sempre a boa escolha do assunto,de acordo com atual situação do País. Parabéns.
mariafrancisca
8 de julho de 2017 às 18:37
Grata, Edson, meu leitor cativo e incentivador.
Celeida Alves
25 de junho de 2017 às 22:54
Muito bom
mariafrancisca
8 de julho de 2017 às 18:36
Grata, Celeida. Beijos. Bom ver você aqui.
Marli
25 de junho de 2017 às 23:38
Boa contribuição!!! Temos que ser cônscios de nossos deveres. O respeito é fundamental.
mariafrancisca
8 de julho de 2017 às 18:35
Não é outra finalidade do meu trabalho no Programa TJC, nas escolas: Trabalho, Justiça e Cidadania. Obrigada, pela sua leitura e comentário. Estou com saudades de você. Abraço fraterno.
- Attilius
26 de junho de 2017 às 10:08
– Palavras para o momento presente. Presente? Muita coisa agora sabemos, ao claro, porque as comunicações ficaram mais rápidas, expandidas e escancaradas. O momento presente agora está instantâneo, à palma da mão. Mas quem define é a massa, povo que não tem a mínima informação e vai na lábia facilmente… ou tem a “cabeça já feita” e cristalizada, irredutível. Chama-se a essa manifestação dessa massa de “legitimidade”. De fato, ao contar dos números, talvez seja. Muito claro o seu raciocínio e uma salva de palmas ao seu saudoso amigo, o velho Serafim…
Abraços fraternos.
mariafrancisca
8 de julho de 2017 às 18:34
Pois é, Attilius, meu amigo Serafim partiu, mas as palavras dele permanecem em minha mente. Abraço, meu amigo.
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