Liguei a TV. Uma enorme e desordenada fila. É só o que vemos. Pessoas chegando de madrugada em determinados lugares, por um prato de comida. Muita tristeza.
Mas a notícia que seguiu era diferente e causou-me ainda mais espanto: Uma grande multidão invadiu um condomínio. Gente que não acabava mais. Homens, mulheres, crianças…
À medida que se desenvolvia a reportagem, a tristeza retornou. A construção dos apartamentos foi paralisada e a Caixa Econômica não agilizara a retomada dos trabalhos. Os invasores acharam uma beleza terem onde dormir, porque moravam na rua.
Em princípio, dei-lhes razão. Já que os apartamentos nunca acabavam de ser construídos, tomariam posse assim mesmo e veriam como fazer depois, pois não tinham onde morar.
Mas a história não terminava ali, porque aqueles que invadiram não eram os que concorriam aos apartamentos, no Programa “Minha casa, minha Vida”. Então, como ficam?
Não sei como terminou essa confusão. Mas a história vive repetindo e o Poder Público de olhos fechados para a miséria do povo. Daqui a pouco, virá ordem judicial de desocupação e será um Deus nos acuda.
Li, faz tempo, uma crônica do Cony: “O barril e a esmola”. Ele diz que o Filósofo grego Diógenes morava num barril e pedia esmola às estátuas. Por isso, zombavam dele. Mas ele dizia que, como as estátuas não tinham olhos para ver, nem coração para sentir, não ficava aborrecido por não ser atendido.
Cony, na mosca, quando registra: “É mais ou menos uma imagem que pode ser usada para definir as relações entre a sociedade e o poder. Tal como as estátuas gregas, o poder tem os olhos vazados, só olha para dentro de si mesmo, de seus interesses de continuidade e de mais poder.”
Aquele povo da notícia não mora num Barril, como Diógenes. Mas já se cansou de pedir esmolas às estatuas, digo, ao Poder Público.
Por isso, a invasão.
Não sei se todos, mas uma senhora que foi entrevistada tem situação pior. Não tem casa, nem barril, tem uma rua, a areia da praia (quando não é expulsa porque incomoda), tem o frio, a fome e a sede.
As Igrejas e agremiações e muitas pessoas fazem campanha do agasalho, do alimento, mas não dão conta de tanta pobreza.
E o Poder Público? A Caixa respondeu que está tomando as providências junto à construtora que abandonou o serviço, para contratar nova empresa. A burocracia, essa Majestade que ignora todos em volta porque é grande e poderosa, impede tudo, sabemos. Como os governantes não têm olhos nem coração, nada veem, nada sentem, a não ser na época das eleições.
Prometem o que podem e o que não podem, nessa eterna enganação.
O desemprego aumenta, a doença e a fome não esperam, mas estamos com um fundo eleitoral imenso, com inúmeros partidos políticos, nanicos que nada representam, mas a eleição vem aí e as campanhas gastando rios de dinheiro.
A população em situação de rua?
Que procurem um barril!
Maria Francisca – junho de 2022.
Geraldo de Castro Pereira
17 de junho de 2022 às 09:24
Prezada escritora Francisca! Sempre aprecio suas crônicas. Meus parabéns e continue nos deleitando com seus escritos. Abraços fraternos!
mariafrancisca
17 de junho de 2022 às 13:51
Obrigada, caro poeta Geraldo. Você sempre muito generoso. Se depender de você, escrevo até morrer (Rsrs. até rimou).
Grande abraço.
Edson Lopes
27 de junho de 2022 às 18:59
Infelizmente essa é a nossa realidade. A famosa frase ” pão e circo ” continua valendo nos tempos atuais. Mas como sempre você sempre atenta e conectada em Tudo. Parabéns mais numa vez!
mariafrancisca
28 de junho de 2022 às 10:16
É, meu amigo, o mundo não muda, mesmo! Pelo menos nesse aspecto. Na era da alta tecnologia, o ser humano ainda está atrasado.
Grata pela leitura e comentário.
Grande abraço.