Marcos Alencar, em crônica no jornal” A Gazeta” disse: Nem todas as filas são obra do diabo” e enumerou algumas filas que considerou interessantes.
Ninguém gosta de filas, eu sei, e eu também não gosto.
Já Cândido Urbano, de Carlos Eduardo Novaes, era um urubu que queria ser gente e foi informado pelo Velho Noé, o homem malcheiroso (“do ponto de vista dos homens”, segundo Cândido), que a primeira experiência que deveria passar seria entrar numa fila. E uma fila bem grande. E um dia, desolado, por não encontrar emprego na cidade, lembrou-se do velho e foi em busca de uma fila, “porque todo homem que se preza, já entrou numa fila”.
E não há escapatória, mesmo, nos dias atuais. Aonde se vai, há fila. Nas ruas, filas e filas de carros (haja paciência!), nos supermercados, idem, nos pontos de ônibus, nem se fala…
Outro dia, a fila dos idosos no supermercado estava insuportável. Como sempre, é a mais lenta. Demoram para encontrar o cartão, para ver se o preço está certo no monitor, resolvem conversar com o caixa etc. Quanto mais idoso, mais a fila demora.
Era tanta gente que muitos embarcaram noutra fila.
A propósito, vi uma reportagem sobre a redução da fatia da população com menos de 30 anos. Menos da metade do povo brasileiro é composto por jovens. Os filhos aguardam a consolidação da carreira e, portanto, ter filho fica para mais tarde. Essa atitude acaba por diminuir a quantidade de crianças nascendo. Um amigo, à minha pergunta se não tinha netos, respondeu, rindo: meus filhos abriram o parque de diversão e fecharam a fábrica. Era uma brincadeira, claro, mas parece ser verdadeira essa assertiva, porque por todos os lados há idosos.
Pois bem. Na fila para a qual muitos migraram no supermercado, havia vários idosos. Era daquele tipo de caixa a que pode passar apenas quem tem até 10 volumes.
Nesse ambiente, escutar conversa sobre idosos acaba por ser um assunto engraçado.
Como demorava muito, muitos conversavam, riam, contavam casos etc.
Uma senhora começou a reclamar. “Que coisa! Esse povo não tem um pingo de respeito. Uns vêm para essa filha com um monte de pacotes e a moça do caixa, passa assim mesmo, nada diz e nós ficamos aqui, esperando, esperando. Por outro lado, precisavam colocar mais caixas de idosos. Vejam esta filha: tem mais velho do que tudo”.
Um senhor olhou pra ela e fechou a cara. Pensei: Lá vem briga, mas ficou nisso.
Ela arrematou: O que mais tem em Itapuã é velho e cachorro.
Foi a conta de todos começarem a falar ao mesmo tempo. Virou uma confusão, até que veio um senhor, tipo um chefe daqueles posudos e abriu outro caixa.
Eu ria a mais não poder, acompanhada de mais três senhoras e, por isso, demoramos a terminar a nossa compra, pois tivemos que entrar de novo na fila.
De tanto que ri, acabei concordando com Marcos Alencar. Nem toda fila é infernal.
E tome fila…
Maria Francisca – Final de outubro de 2023.