Por que será que questiono tanto?
Fico a me fazer essa pergunta de vez em quando. Tudo que vejo, questiono. Será que sempre tive cabeça de Juiz? Ou não seria de juiz e sim de policial? Ou nem um nem outro? Juiz já iria recebendo as informações, as provas, analisando e julgando e eu não fico julgando. Policial questiona para um objetivo prático, descobrir algo que seja uma transgressão. Eu questiono para entender. Questiono a mim mesma. Isso está certo? Como é que isso funciona? Às vezes, só no pensamento. Outra hora, esse pensamento vaza, como hoje.
Pior é que as minhas leituras ainda me atiçam. Por exemplo, “Amor pelas coisas imperfeitas”, do Monge Haemin Sunim.
A minha questão atual é sobre crianças em novelas. Você dirá: Mas é novela… Aí é que está. Tudo pela arte?
Na atual novela das 9 (que não é das 9…), há uma criança, o Tonho. Essa criança sofreu uma perda. A mãe sumiu por um tempo. O pai levou-o para uma casa rica e o menino passou a viver num luxo incomparável e com um carinho do mesmo tamanho do luxo. A mãe apareceu, mas o pai não o deixou com a mãe. O pai roubou do ricaço que iria ser seu sogro e mudou-se. Acabou aquele carinho que o menino recebia do ricaço. Agora, a mãe não é mais a mãe dele, em face de um DNA negativo. O pai é preso, a avó está noutro Estado e a criança acaba tendo que ir para um abrigo. Recebe a visita do ricaço e do professor amigo da família e fica a dizer: quero ir para minha casa… Cadê meu pai? Cadê minha mãe? Questões sem resposta.
Como é que fica a cabeça desse pequeno ator? Ele não está ali vivendo tudo como se fosse verdadeiro? Não estão ensinando a ele as expressões, os risos e os choros nas horas adequadas? Ele compreende que isso é uma arte? Uma brincadeira? Passa incólume por essas emoções?
Eu tenho visto alguns atores dizerem que, após acabar um trabalho em que se investiram de um personagem polêmico, como de uma pessoa má, têm que ficar um tempo sozinhos para se desvencilharem dessa ficção. Como é isso para uma criança?
Sem contar a frustração que já vi, em minhas leituras de jornais e revistas, sobre adolescentes ou adultos que, após trabalhar num personagem de muito sucesso, como criança, não conseguem, nem mesmo trabalho como ator, atriz. Porque o brilho conseguido gera uma expectativa, inclusive na família.
Será que o juiz que autoriza esse trabalho de uma criança analisa e acompanha essa situação? Não sei.
E assim fico a imaginar tudo que vejo. E não é pouca coisa esquisita que se vê, aonde se vá.
Por hoje, fica a questão: Tudo pela Arte?
Maia Francisca – abril de 2023.
Rosaly Stange Azevedo
16 de abril de 2023 às 18:42
Excelente observação Maria Francisca. Temos vários exemplos de crianças que foram “atores mirins”, fizeram algum sucesso, viveram cenas bem fortes no sentido emocional e depois não conseguiram superar os traumas. Fica a pergunta: “Vale tudo pela arte?”
Parabéns!
mariafrancisca
22 de abril de 2023 às 17:47
É isso aí, Rosali. Citados desses atores mirins. Vivem num glamour que nem sempre se repete em suas vidas.
Obrigada.
Grande abraço.
Edson Lopes
17 de abril de 2023 às 18:32
Realmente mais uma relevante observação. Não só com sua cabeça de Juiza ou de policial, mas uma cabeça que pensa no próximo. Se a maioria dos Juízes pensassem como você, muitas injustiças deixariam de ser feitas. Parabéns maisuma vez pelo texto.
mariafrancisca
22 de abril de 2023 às 17:45
Meu caro amigo Edson, não posso deixar de pensar nessas crianças sem infância. Crescem num mundo virtual e para voltarem… Obrigada pela leitura e pelo carinho.
Grande abraço.