O calçadão coalhado de gente e de cachorros, aliás, talvez mais de cães do que de gente. Para atrapalhar um pouco mais, um enorme caminhão descarregava alguns equipamentos ali, com um estreito espaço para a passagem de quem se arvorava a andar por aquele vespeiro, já inchado de pessoas que assistiam a jogos de um campeonato.
Daí a pouco, ouço gritos. Babaca pra lá, babaca pra cá… FDP é você sua… E assim se seguiram xingamentos e palavrões. Duas moças, nas suas respectivas bicicletas, brigavam com um pequeno grupo sentado na beira da praia.
Escutando aqui e acolá, fiquei sabendo tratar-se de um cachorro grande que atacou um cão pequeno de uma senhora idosa e, não satisfeito, teria atacado as moças também.
Em Brasília, certa feita, segundo um amigo, uma pesquisa teria apurado que havia mais carros do que pessoas em determinada área daquela cidade. Lá, carros, aqui, cachorros, porque acredito que se não hoje, mas daqui a uns poucos dois anos, a Praia da Costa e Itapuã terão mais cachorros do que pessoas. É só prestar atenção. Há quem ande com 2 e 3 cachorros. Ou cada dia com um diferente. Isso já reparei muitas vezes.
Pior de tudo é que os cachorros têm preferência em relação aos humanos. Cachorros grandes sem coleira (ou focinheira, mais adequado), soltos (o que ocasionou a briga, por exemplo). Se você reclama do cachorro solto, a primeira coisa que dizem: É mansinho. Ora, mansinho para o dono. Outros levam os cachorros com grandes cordas, o cachorro fica pra lá e pra cá, atravessa a corda na nossa frente…O jeito é parar e esperar a vontade daquela “coisa linda” me deixar passar. Se reclamar, é briga na certa. E quando deixam o cocô na calçada? Cedinho, dia de semana, é comum ver essa excrecência no chão. Voltei pra casa outro dia com o tênis em pandarecos.
Hoje é obrigatório ter cachorro, ou, pelo menos um animal de estimação qualquer. Se não tem, imediatamente vem a pergunta: não gosta? Ora, simplesmente não quero. Hoje, não quero mais. Quem gosta que crie um, dois, vinte.
Já tive cão e gato. Gostava. No tempo em que eram bicho. Cachorro ou gato (principalmente cachorro) que viram gente ou mais bem tratados do que gente…
Uma senhora vivia me pedindo ajuda para uns tais cachorrinhos abandonados. Um dia, exasperei-me. Tanta criança abandonada… Por que essa senhora só cuida de cachorro? Um dia, após um pedido por WhatsApp, lancei a pergunta: A senhora só pede para cachorro? Há muitas crianças precisando de ajuda também. Nunca mais recebi mensagem dela e achei muito bom. Que ela cuide de seus cachorrinhos e eu, do meu canto, só cuido de dar ajuda para crianças necessitadas. Cada um no seu quadrado, como se diz por aí.
Não estou dizendo que os cachorros devem ser abandonados. Claro que não. Quem tem qualquer animal deve cuidar dele, óbvio, veterinário, limpeza e, principalmente, impedindo que ataque as pessoas.
No retorno, vim andando pelas calçadas em frente, parando a cada esquina, ora nos sinais de trânsito, ora nas faixas de pedestres, esperando a fila de carros, já que motoristas não respeitam as regras de trânsito.
Por fim, digo que não teria reclamação alguma em relação aos cachorros no calçadão. Uns são muito bonitos e interessantes. Mas é preciso que as pessoas passeando com os bichinhos sejam educadas e cuidem para não incomodar os passantes.
Do jeito que as coisas andam, antes de sair de casa temos que nos armar de um saco de paciência!
Em verdade, caminhar no calçadão nos domingos ensolarados virou um desafio.
Maria Francisca – julho de 2022.
Edson Lopes
31 de julho de 2022 às 14:51
Falou tudo e Muito mais!Descrever o que acontece, não só na Praia da Costa, Itapua e em muitos outros lugares da forma que escreveu, só você mesmo. Continuo seu fa incondicional. Parabéns.
mariafrancisca
31 de julho de 2022 às 17:41
Obrigada, Edson. Você e sua generosidade me incentivam a escrever mais e mais.
Grande abraço.
Geraldo de Castro Pereira
1 de agosto de 2022 às 09:26
Parabéns, amiga e confreira Francisca1 Vc. é a rainha das crônicas! Abraços fraternos!
mariafrancisca
7 de agosto de 2022 às 10:50
Obrigada, caro amigo e confrade. Quem dera que eu fosse isso tudo.
Um abraço.
Euler Oliveira
1 de agosto de 2022 às 12:41
Dra. Francisca, creio que no Brasil deva existir mais cachorros abandonados que cachorros “gente”.
Aqui em Barcelona ainda não vi nenhum abandonado. Todos andam de coleira e focinheiras.
Também são tratados melhor que muitas pessoas mas a culpa não é do cachorro e sim dos donos.
É triste mas real.
Abraços
mariafrancisca
7 de agosto de 2022 às 10:47
Sim, Euler. Há cachorros abandonados, mas aqui, na Praia da Costa, não vejo isso. Claro que esse tratamento como gente o cachorro gosta, ora, mas não é ele que faz isso. Quem os trata como filhos é que deve pagar essa conta. E há quem brigue na Justiça para ver quem fica com o cão, quando o casal se separa. O exagero é que mata. Já não disse o filósofo que a virtude está no meio? Rsrs.
Um abraço e obrigada pelos comentários.