Na novela da Rede Globo, “Chocolate com Pimenta”, transmitida anos atrás, havia uma personagem com mania de grandeza. Achava-se superior e, por isso, vivia repetindo: Sou chique, Bem!
Esse bordão caiu no gosto popular e há sempre alguém repetindo isso por brincadeira, porque, em verdade, era muito engraçado, em face do contexto, já que a moça em questão nem era pessoa importante, tampouco chique.
Ouvi esse bordão esses dias e lembrei-me de situações engraçadas que, embora os autores não verbalizassem o termo, queriam dizer a mesma coisa, como se fosse um deboche para com pessoas próximas.
Na minha Terra Natal, nos anos 60, era comum as pessoas procurarem trabalho em São Paulo. Sejam empregadas domésticas, sejam trabalhadores rurais, ou qualquer outro trabalhador que não estivesse encontrando trabalho e sustento na sua cidade. E muitos vinham passar férias com suas famílias, trazendo presentes, alegria, o que era muito bom, e aquele sotaque carregado do paulistano que faziam questão de exibir como um troféu. Era muito engraçado vê-los falando deforma diferente.
Pois bem. Joana, trabalhadora doméstica, fez esse percurso e deixou a filha com a mãe, nossa vizinha, uma mulher excelente, simples, quase analfabeta, nossa amiga. A menina tinha a idade da minha irmã e as duas brincavam juntas.
Um dia, a Joana veio de férias e, numa tarde, começou uma chuva fina, bem fina e a filha estava brincando do lado de fora. Joana, então, numa casa da frente, conversando, viu a filha na chuva e gritou de lá para a mãe: Mãããiiiêê! Chame a Martinha pra dentro, está garoandôôô… A mãe: O quê, Juana? Está garoandôôô! O quê, Juana? Está garoandôôô! O quê, Juana? Está chovendo, ora! Enraiveceu-se a “Juana”.
Nós, ali perto, rimos a valer.
Alguns anos depois, chegou a vez de pessoas migrarem para os Estados Unidos. Da mesma forma, retornam bonitos, alegres, contando tantas vantagens que chegamos a pensar que não passaram perrengue algum por lá. Como os pseudo paulistas, adquiriam um pouco de conhecimento do Inglês e gostavam de exibi-lo. Aí, acabavam sendo protagonistas de situações engraçadas, como a “Juana”.
Muitas pessoas de minha relação pessoal fizeram essa experiência, mas uma delas fez-me rir. Ficou lá uns três anos e retornou pensando que era americana, achando-se o máximo, ou seja, “a dona da cocada”, debochando dos brasileiros e falando mal do Brasil, como é comum acontecer.
Um dia, num grupo de pessoas conversando, perguntaram-lhe se era ela quem levava o neto pequeno para a aula. Ela disse: Não. Ele vai de Veen, para em seguida, dizer: Van, como dizem vocês, naquele tom caraterístico.
As pessoas presentes fizeram simplesmente um “ah” eu, na mesma hora, lembrei-me da “Juana”, com seu “garoandôôô”.
Hoje, em todos os lugares, e até em redes sociais, nas discussões, sempre aparece um mais inteligente e mais culto do que os outros, e até o próprio dono da verdade. São os egos em ebulição.
Eu só faço rir, quando vejo ou ouço essas coisas, lembro-me da expressão e tenho vontade de dizer ao “pavão”: Sou chique, Bem!
Maria Francisca – julho de 2019.
Arildo
20 de julho de 2019 às 00:24
Oi, Francisca, você consegue prender a gente com esses contos tão especiais que nos faz retornar ao tempo de cada acontecimento !
Me fez lembrar uma expressão que usava na Cesan quando encontrava algum amigo ou conhecido: “Ah, meu chapa !”. Após 23 anos de aposentado, quando os encontro, a primeira saudação: Ah, meu chapa.
mariafrancisca
20 de julho de 2019 às 09:52
É muito bom rever colegas, não é, Arildo? Principalmente, quando são tão queridos. Grata pela leitura e pelo comentário.
Agora, não estou podendo mais deixar entrar os comentários sem, antes, aprová-los.
É que começaram a aparecer alguns de países estrangeiros, apenas para oferecer coisas. Se eu não quero propaganda no meu blog para não incomodar ninguém…
Grande abraço.
Arildo
20 de julho de 2019 às 00:28
ESCLARECENDO:
Quando eu os encontro, a saudação deles: Ah, meu chapa !
Janice Emaculada Moraes Moreira
20 de julho de 2019 às 03:38
Comadre: esses casos acontecem sempre mesmo. Gosto de ver a sua forma inusitada de escrever e de contar verbalmente também com tamanha espontaneidade.
Parabéns! Abraços.
mariafrancisca
20 de julho de 2019 às 09:53
Grata, comadre. Saudades de vocês.
Grande abraço.
Analice lages Mouro
21 de julho de 2019 às 18:08
Muito intessante,gostei e deixei escapar uma boa risada,pois me trouxe lembrança de fatos semelhantes.Realmente, existem pessoas que por muito pouco,esquecem seu sotaque e até suas origens.Um abraço!
mariafrancisca
15 de agosto de 2019 às 11:07
Oi, Analice.Sempre temos uma lembrança de algo parecido, não é? Grata pela leitura e pelo comentário. Beijos.
Denise
21 de julho de 2019 às 19:10
Boa noite , Dra . Francisca. Ao ler este conto sobre expressoes que nos costumamos usar. E’ “como um chiclete que gruda , cola, pega”. Assim que terminei de ler , comecei a rir muito de um caso em que tomei parte. Ate’ o presente momento nunca tinha assistido o programa Chaves no SBT por sempre estar ocupada trabalhando seja ‘a noite ou , no domingo , descansando. Trabalhava com uma colega “engraçada” que ria e brincava muito deixando o ambiente de trabalho mais leve mas nem por isto seu trabalho deixava de ser bem feito. Era a expressao “gentalha” para la’ e para ca’, agora , com mais maturidade , assisti finalmente Chaves e ri , ri e muito. Pena que essa querida colega nao esta’ mais por perto , estas expressoes me deixam saudades nao do que representam mas das lembranças animadas que rimos todos juntos no trabalho.
mariafrancisca
15 de agosto de 2019 às 11:08
Grata, Denise. Beijos.