FOGO! - Maria Francisca

 10 de maio de 2019 

Um cheiro forte impregnou a sala. Assustados, corremos para fora.
Não demorou, viu-se uma nuvem escura sob a luz do poste, na rua. E tudo se encheu daquela horrível fumaça que tanto mal faz ao nosso já corroído pulmão.
Busca daqui, busca dali, e apareceu: alguém colocou fogo num sofá que outro alguém teria colocado na rua.
Dia seguinte, o estrago daqueles dois: o incendiário e o desleixado, ambos mal-educados, para não dizer coisa pior. Flores e folhagens daquele canteiro, que a duras penas tinham crescido, simplesmente pelo carinho e a dedicação de um morador, jaziam retorcidas, mortas, caídas no chão. Sem tempo de receber socorro.
A vida já pede socorro todos os dias, mas, mesmo assim, aparecem esses seres insensíveis, que só vêm para destruir.
Em volta das plantas, os vizinhos olhavam desconsolados e silenciosos. A tristeza era patente. Todos num só pensar: quem teria sido o autor de tamanha excrescência?
Pouco a pouco, foram retornando aos lares, de cabeça baixa. Amanhã, deverão replantar as flores e folhagens e tentar recuperar a beleza de outrora daquele espaço.
Esse fato aconteceu em Cel. Fabriciano, à beira da mata ciliar, que contorna todo o Bairro Amaro Lanari, onde mora minha mãe.
Não houve vítimas humanas e o espaço pode ser recuperado facilmente.
O que dizer do incêndio que devorou parte do Museu Nacional? Um acervo centenário virou cinzas. Sem vítimas humanas, mas, mesmo assim, uma tristeza. Será restaurado? Ninguém sabe como, nem quando, se falta dinheiro para tudo neste País.
E a bela Catedral de Notre Dame? Essa, sim, será restaurada a toque de caixa, porque pessoas ricas farão gordas doações para que isso ocorra.
O que houve? Todos ficam a perguntar.
No Espírito Santo, como nos dá notícia “A Gazeta”, fogo destrói 3 lojas em prédio histórico no Centro de Vitória, um outro incêndio atinge dois galpões de uma empresa, em Vila Velha e, mais outro, em Aracruz, na área de suprimentos de uma empresa. Todos no mesmo dia. Felizmente, não houve feridos. Na UFES, com tantos percalços pelo corte de verbas, prejuízo com incêndio ocorrido na manhã de 03.05, deixa sem energia e sem o restante das atividades, portanto, toda a Universidade.
Ninguém sabe por que, nem como se deram esses incêndios.
Mas tragédias humanas, com vidas e mais vidas ceifadas, não nos faltam: Mariana, Brumadinho, Muzema… E se tudo isso fosse um desastre anunciado, como muitos estão a bradar? Nem gosto de pensar. Tamanha insensibilidade seria um pecado imperdoável. E quem recupera a vida humana?
E quando o fogo é de bombas, de armas letais, pela maldade das pessoas, como ocorreu no Sri Lanka? Morreu tanta gente…
Enfim, a fumaça que nos sufoca é a mesma fumaça que anuncia a desgraça e previne destroços. O fogo que dá vida e aquece, é o mesmo fogo que destrói vidas, cidades e florestas.
Deveríamos ficar atentos, mas humanos, demasiado humanos, todos somos, como diria Padre Fábio de Melo.
Maria Francisca – maio de 2019

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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