Se eu fosse o Presidente… - Maria Francisca

 5 de março de 2019 

Numa dessas pisadas em falso em passeio irregular, consegui uma dor no quadril que está se arrastando. Fazendo um parêntese, passei a dizer que tenho dor nos quartos, porque uma piada que me fez rir muito foi sobre os médicos cubanos. Conta-se que, em Minas Gerais, não conseguiam receitar porque não conheciam os nomes de enfermidades ouvidas nos consultórios. Entre eles, espinhela caída e a famosa dor “nos quarto” …. Pois é, por conta dessa dor desconhecida dos cubanos, tive que fazer fisioterapia, peregrinando diariamente, por vinte dias, a uma clínica.

Aí, deitada numa maca, recebendo os cuidados, ouvidos apurados para escutar as conversas na sala ao lado. Hoje, um imenso debate se fazia. O assunto do momento é a barragem de rejeitos de Brumadinho que ceifou a vida de muitos e nem se sabe, ainda, quantos, trazendo sofrimento e dor.
Pois bem. Cada uma das vozes que eu ouvia, todas de mulheres, se manifestava de uma forma tão contundente, que dava a impressão de ser, cada uma, especialista no assunto de barragens, empresas mineradoras, siderúrgicas etc.

No calçadão, ouço as coisas mais absurdas sobre Direito, Processo, segurança jurídica. Aliás, essa expressão caiu no gosto popular. Tudo agora é segurança jurídica. Outro dia, um senhor falava sobre a lei processual e disse que as provas são difíceis, por isso, os réus não cumprem pena alguma. Depois, soltou outra pérola: Na Justiça do Trabalho é pior. Lá, pede-se o que se quer e nem é preciso provar nada. Se perder, tudo bem. Não precisa pagar nada… A lei deveria mudar, dizia um. Não, dizia o outro. A lei tem é que acabar. Não é preciso tanta lei.

O detalhe é que todos sabem tudo. E dão palpites e mais palpites sobre o que deve ser feito. O que é preciso para o Brasil melhorar, a saúde, a educação etc

Esse “debate” que ouvi, hoje, por exemplo, era assim: A Vale deveria fazer isso. O outro retrucava: Não. A Vale deveria fazer aquilo. Outro, ainda: deveria fechar todas as fábricas, não é isso que querem com tantas críticas? Aí, vão ficar reclamando, como aconteceu com a Samarco.É o radicalismo do momento. O diálogo não existe, porque cada um acha que tem razão… Nas redes sociais, então, parece uma disputa, um duelo de verdades, para ver quem sabe mais. Aí, a ideia que se tem é que nenhum dos duelistas sabe alguma coisa do assunto.

Se você fala algo de política, então…

Aí, lembrei-me de um serviço de alto-falantes da cidade de minha infância. Como lá não tinha serviço de rádio, “inventaram” uma transmissão de longa distância, com alto-falantes nos postes e transmitiam músicas, avisos, replicavam repórteres etc. Tinha humor também. E um que se repetia como uma série, uma voz de homem bradava: SE EU FOSSE O PRESIDENTE, EU FAZIA…

E uma das coisas de que nunca esqueci: SE EU FOSSE O PRESIDENTE, EU MANDAVA A MUIÉ PRA ROÇA TRABAIÁ E MANDAVA OS HOME DAR OS PEITO PROS MENINO.

Ai, quando eu vejo quem não sabe nada de determinado assunto dar palpite, eu me lembro dessa história e costumo repetir em silêncio: Se eu fosse o presidente…

Maria Francisca – Fevereiro de 2019.

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8 comentários

  1. Povo de Itambacuri já era sábio e não sabia…
    Beijo e obrigado por mais essa pérola!


  2. Rosa Maria Cardoso
    6 de março de 2019 às 13:23

    Parabéns Dra Francisca, como sempre o bom humor e sagacidade de transformar fatos do cotidiano em belos e divertidos contos, são sua marca.

    Parabéns, amei

    Bjos

  3. Excelente! Por onde passa (do Direito ao Conto), deixa um rastro de leveza e beleza…


  4. Geraldo de Castro Pereira
    11 de março de 2019 às 10:18

    Excelente texto, Francisca! Li com gosto de quero mais! Parabéns! Continue nos encantando! Abços.

    • Obrigada, Geraldo. Hoje, vi que você, como se dizia antigamente, assobia e chupa cana…Rsrs. Canta, toca piano, violão, ator de teatro, poeta, escritor. Que beleza.

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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