ESQUERDA OU DIREITA? - Maria Francisca

 24 de março de 2018 

 


Não. Não vou falar de política. Não nesse tempo de intolerância. Basta um nome mal-ouvido e você se arrisca a ganhar um palavrão.  Falo de caminhos por onde andar: do lado direito ou do lado esquerdo.
Estava caminhando no calçadão da Praia da Costa, pensando nisso. Em Belo Horizonte, no Parque das Gameleiras, há um calçadão e por ali transitam muitas pessoas. Lá, registraram a forma de se postar na caminhada. Há indicação de quem vai e de quem vem, mostrando por onde se deve caminhar.
Aqui, cada um que se vire. Misture-se com cachorros, bicicletas, carrinhos de picolés, amigos em grupo se confraternizando e por aí vai. Eu, por exemplo, vou em ziguezague: ora na direita, ora na esquerda.
Fui para os lados de Itaparica esta manhã. Ali a coisa piora, porque o espaço é estreito e, em determinado lugar, a Prefeitura resolveu dividir a calçada com os ciclistas. Assim, se duas pessoas andarem juntas e encontrarem uma terceira em direção oposta, a confusão está feita. Ninguém sai para dar espaço ao outro. Nunca vi isso em lugar algum, a não ser aqui. E quando resolvem vir mais de dois? Pior, mesmo, é quando vem um bando, chegando da rua, atravessando a calçada para ir à praia, cheio de cadeiras de praia, sacolas, caixas de isopor e parte pra cima de você, sem nem sequer dar uma olhada. Parecem todos dormentes, na expressão da minha mãe, quando quer dizer que a pessoa não presta atenção. Ou você para, ou pula para um lado, se tiver espaço, ou tromba em todos. E vamos ficamos todos sem educação.
Nos fins de semana e nos dias de carnaval, em que escolas e algumas instituições não funcionam, a coisa fica preta. O fluxo de gente aumenta e todos têm direito de ir e vir, mas uns têm mais direitos, como sempre.
Uns querem tirar fotos justo no lugar de maior fluxo. Aí, quem vem ou vai tem que parar para dar a oportunidade das fotos e vão se aglomerando pessoas.
Hoje estava um caos. Nos lugares mais estreitos é que os vendedores gostam de colocar seus produtos à venda. Talvez para serem melhor vistos. Uma barraca com carrinho vendendo caranguejos ali estava.
Vinha um senhor praticando corrida indo em direção à tal barraca e um grupo estava parado em frente, talvez tentando comprar os tais caranguejos, mas impedindo a passagem. De repente, alguém vinha atravessando e trombou no homem. Ele desequilibrou-se, tropeçou (essas calçadas estão cheias de buracos), caiu sobre o grupo e sobre o carrinho, e lá se foram todos ao chão, misturados com caranguejos e aquele “maravilhoso” cheiro que deles emana. Algumas pessoas assustadas, outras olhavam penalizadas, mas o deleite foi de alguns que morriam de rir, deitados na areia.
Eu ainda tive tempo de dar a volta, passar pela calçada em frente, dar no pé, porque, com certeza, teria mais confusão, do tipo: E, aí, quem paga a mercadoria que se perdeu naquele areal? Ninguém ia querer ter prejuízo. Declarar-se culpado pela confusão, então…
Ou será que a vendedora aproveitaria quando as pessoas saíssem e cataria todos os caranguejos, para depois vendê-los?

Tudo é possível nesse mundo de “espertos”.
Não sei, mas a direita e esquerda não saia de minha cabeça. E, como num mantra, fui repetindo baixo e pausadamente: ora esquerda, ora direita. Ziguezagueando, cheguei em casa.

Maria Francisca – Carnaval de 2018.

 

 

 

COMENTE:

8 comentários

  1. Mais uma vez um texto bem colocado e com uma puxada de orelha para os sem-noção do calçadão.Foi numa dessas,esquerda ou direita,que fui pro chão em plena ciclovia.rsrsrs


  2. Maria Wilma de Macedo Gontijo
    26 de março de 2018 às 00:34

    Querida amiga, poeta, escritora: vi-me caminhando com você, direita, esquerda, ziguezagueando. Sua descrição é tão perfeita, tão viva, que vi, quase que literalmente, os caranguejos caídos na areia. E com você saí, dei no pé! Bjs.

  3. Francisca, você é fenomenal ! Sabe abordar muito bem o nosso cotidiano.
    Poderia acrescentar mais um detalhe em seu artigo? Além de ziguezaguear que a gente faz, temos ainda que ficar cabisbaixo, transparecendo estar preocupado. É ter o cuidado em não pisar nos cocôs de cachorro !

    • Oi, Arildo. Obrigada. Mas eu já escrevi uma crônica sobre os cachorros nas ruas. Chama-se: Cuidado! Cocô de cachorro! Dê uma olhada depois. Fiz a crônica depois que um transeunte colocou uma placa no calçadão com esses dizeres. Achei ótima, tirei uma foto e escrevi a crônica.
      Um abraço.


  4. janice emaculada moraes moreira
    26 de março de 2018 às 13:22

    Lamentável este quadro. Uma cidade turística cheia de problemas . E nós ,aqui em BH, temos diversos parques ecológicos , a maioria depredados, sem segurança e repletos de marginais. O poder Público não toma providências para cuidar do patrimônio , lazer, bem estar e segurança da população. A população também não colabora . Tá difícil ! Vamos continuar com o nosso propósito de educação na família , buscando pelo menos viver bem com as pessoas com quem convivemos. Acredito que podemos dar uma grande parcela para o bem da humanidade.

Responder


Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


Receba nossas novidades:

Arquivos por mês: