Mulher tem que ser bela? - Maria Francisca

 2 de fevereiro de 2018 

 

Certa vez, numa conversa em grupo, alguém disse a um amigo: Você engordou. Ele, na mesma hora, respondeu, irônico: Interessante, ninguém fala com mulher alguma que ela engordou. Todos rimos.
Ele tem razão. Também ninguém pergunta a uma mulher a sua idade. E já ouvi alguém dizer o seguinte: Se perguntar e ela disser a idade certa, fuja dessa mulher. Ela será capaz de tudo, já que assume a própria idade… E eu: Fujam de mim, então, porque tenho coragem de declarar bem alto quanto anos de vida tenho. E com orgulho. Já escrevi sobre isso. Adianta esconder? É até ridículo, querer-se parecer mais jovem do que se é.
Vinícius de Moraes teria cunhado a expressão: “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”
Por que “as feias”? Por que não os feios? Só as mulheres devem ser belas? Homens podem ser feios como Vinícius? Podem, sim. E podem ser gordos, carecas etc. Nossa sociedade é machista.
Homens com cabelos grisalhos é lindo, mulher, se não pintar as mechas brancas, é relaxada. Ainda bem que muitas mulheres estão dando um thauzinho pra essa exigência e deixando os cabelos naturais. Da mesma forma, estão assumindo o corpo como é, sem a exigência de magreza, desde que tenham saúde. Ninguém precisa ser Gisele Budchen.
Dia 29/01, vendo o “Jornal Nacional”, lembrei-me disso, porque vi César Tralli e Monalisa Perrone na bancada. Claro, ambos muito competentes, senão, não estariam ali.
A diferença é que a mulher, além de competente, tem que ser bonita, como a Monalisa Perrone. O homem só precisa ser competente, como César Tralli, que me desculpe, é bem feiinho. Observem os apresentadores: muitos são feios. Já viram alguma mulher feia na bancada de algum jornal? Mulheres também não podem ser velhas. Já alguns homens são bem velhinhos, como Sérgio Chapelin e Paulo Henrique Amorim. Uma exceção que confirma a regra é Glória Maria, com 68 anos. Há alguma apresentadora de 76 anos? Não? Pois é. Pode ser competente, pode ser bonita, mas é velha.
A televisão é uma escola para muita gente: copiam modelos de roupa, de cabelos, estilo de vida… E continuam dando lições horríveis para os telespectadores, com músicas esquisitas pra não dizer adjetivo pior, programas mais do que esquisitos, cenas tristes e por aí vai.
Ontem (01.02), li no site “Justificando, da Carta Capital” um belo texto de duas colegas sobre a letra machista de uma música funk, que, felizmente, foi retirada das redes sociais Segundo elas, os autores nem se desculparam daquela coisa horrorosa. Disseram que foram mal interpretados. A culpa ainda é da leitura. Ora, ora.
E assim vamos cultivando nosso machismo dia a dia e nada muda, apesar de estarmos no século XXI.

Maria Francisca – fevereiro de 2018.

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8 comentários

  1. Oi Francisca
    muito bom seu enfoque e verdadeiro??????
    ?

  2. O que dizer dos textos de Maria Francisca? Sou suspeito por ser fã demais, tanto da pessoa como da escritora. Sempre antenada aos acontecimentos.Esse por exemplo é mais um excelente texto.Parabéns.

  3. … Uma homenagem aos feios, gordos, magricelas, carecas (mulheres também), pele mais caída, vincos adquiridos na passagem, velocidade menor, muita sabedoria e caminhos percorridos… um abraço em todos, que são, no mais profundo sentido, gente, com suas histórias e lembranças. Só restarão isso depois de tudo: histórias e lembranças. Parabéns, Francisca !

  4. Muito bom. Como quase tudo na vida, ficamos à mercê de parâmetros. Mesmo que tenhamos consciência de que eles mudam com o tempo (e com a cultura), ficamos irracionalmente presos a eles. Esses parâmetros (estereótipos), por si, já são ruins. Quando eles são desiguais são ainda piores (como é o caso apontado no texto). Confesso que adoro ver as rusgas da idade e vislumbrar não só a maturidade, mas também a beleza. Isso não é difícil. Basta criar o meu parâmetro.

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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