Virou lugar comum dizer-se: “Gentileza gera gentileza”. É que tudo muito repetido perde a força. Se uma pessoa é pródiga em elogios, damos menos valor quando nos elogia. Pois se elogia tudo… Da mesma forma, quando alguém critica tudo, a crítica perde a credibilidade. As palavras e os gestos, da mesma forma.
Mas essa expressão, apesar de desgastada, é verdadeira. Gentileza dificilmente provoca grosseria. E os gestos de delicadeza ou de solidariedade, por menores que sejam, aquecem o coração e nunca são esquecidos.
Esses dias, vi um vídeo, em que dois rapazes entregavam rosas a mulheres desconhecidas que encontravam no caminho. Todas ficavam surpresas e felizes.
Podem ser simplesmente um “bom dia” alegre a um passante, uma paradinha para ouvir algum idoso que nos cumprimenta e quer conversar conosco, uma visita a um asilo ou casa de repouso para ouvir as histórias dos idosos, brincar com crianças de alguma creche, ou contar-lhes histórias. Tudo isso tem um valor imenso. E não só agrada a quem recebe, não. Alegra o coração de quem pratica tais gestos solidários ou simplesmente gentis. Não há uma letra de música com um verso que diz: Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas?
Alice, personagem de Maria Valéria Rezende conta, no memorável “Quarenta dias”, sobre gentilezas inesquecíveis que recebera na vida.
Pois é. A memória eterniza os gestos gentis. Até hoje lembro-me de uma gentileza que recebi, no final dos anos 80. Quando fui morar em Salvador, andava pela cidade de ônibus, seja para trabalhar, seja para fazer compras. Não sabia dirigir naquele trânsito caótico, além de não conhecer a cidade. Um dia, voltava do trabalho e estava num ponto de ônibus com uma sacola cheia de belas frutas que acabara de comprar numa das inúmeras bancas de rua. De repente, a sacola rasgou-se e lá se foram minhas frutas rolando. Eu fiquei ali a olhar, sem saber o que fazer. De repente, uma senhora desconhecida passou perto de mim, tirou uma sacola de plástico da bolsa, entregou-me e saiu andando apressada. Eu só tive tempo de gritar: Moça, você caiu do Céu! Ela apenas acenou, sem olhar para trás.
Outra pequena gentileza que recebi foi num supermercado, há pouco tempo. Estava eu tentando ver o preço do leite e um senhor fazia a mesma coisa. Ele encontrou duas caixas de um leite semidesnatado, com um ótimo preço. Mostrou-me. Eu disse: Vamos olhar a validade, porque pode ser uma “pegadinha”. Mas, não. Era promoção, mesmo. Em seguida, ele constatou que só havia duas caixas. Como ele apanhara as duas, olhou-me sorrindo, e disse: Quer uma? Fiquei comovida. Tratava-se de um senhor idoso, muito simples, pelo jeito e modo de vestir e pelas mercadorias que estavam em seu carrinho. E tentava dividir comigo o leite que vira ser mais barato. Agradeci e fiquei pensando naquela gentileza o dia inteiro.
Recebo tanta gentileza (esqueço as grosserias, claro), que procuro ser gentil com as pessoas, procurando retribuir um pouco das bondades que recebi na vida.
Claro que cometo os meus desatinos também. Sou maltrapilha, como diz Brennan Menning. Tenho defeitos a mais não poder. Mas que é bom demais fazer e receber gentilezas, ah, isso é.!
E, depois, ter um pouco de perfume nas mãos. Quem não quer?
Alda
27 de dezembro de 2017 às 21:15
Querida Francisca
De novo vc arrasou e não é elogio fácil ?
Fez me lembrar que “gentileza é uma semente
que se planta em qq chão ” e ninguém resiste a
um carinho,não eh mesmo?
??????
?Flores para vc
Feliz 2018!
?
mariafrancisca
5 de janeiro de 2018 às 13:50
Oi, Alda. Você é uma leitora assídua e generosa. Obrigada pelo carinho de sempre.
Bjs.
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:01
Alda, minha querida colega. Você tem razão. Ninguém resiste a um carinho. E você é sempre muito carinhosa. Por isso, todos gostam de você. Beijos, querida e obrigada.
- Attilius
29 de dezembro de 2017 às 10:29
– Arapoisé, né? De vez em quando cumprimento lixeiros do caminhão. Ficam surpresos, mas é bom receber de volta um bom dia, ou boa noite. A Maria Francisca deve ter as mãos sempre cheias de perfume mesmo, perfume até nas gostosas crônicas com que nos presenteia. Abrações mil.
mariafrancisca
5 de janeiro de 2018 às 13:51
Oi, Attilius. Suas mãos também estão perfumadas, com certeza, pois gentileza é o que não lhe falta.
Um abraço, meu amigo.
Geraldo de Castro Pereira
3 de janeiro de 2018 às 09:53
Bela crônica, Francisca! Gostei muito. Parabéns
mariafrancisca
5 de janeiro de 2018 às 13:52
Obrigada, Geraldo.
Um abraço.
Denise Sant Anna Marino
5 de janeiro de 2018 às 14:30
Dra. Francisca ,
uma linda crônica,
nada como começar
o ano assim .
Que venham mais!
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:49
Grata, Denise. Beijos.
Leila Lima
5 de janeiro de 2018 às 15:21
Tia Chica,
Linda crônica! Sempre arrasa! Falando em gentilezas, é o que vc tem de sobra! Sempre carinhosa e delicada. Um beijo
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:53
Oi, Leila. Você também é sempre carinhosa e gentil. Obrigada. Beijos.
Gilberto
5 de janeiro de 2018 às 18:34
Quem me conhece sabe que não sou dado a gentilezas, não distribuo sequer sorrisos gratuitos. Meus amigos são poucos, mas, como diz minha sobrinha, pra ser meu amigo, tem que ser muito bom. Talvez meu coração tenha se endurecido na caminhada da vida. O fato é que, sendo quem sou, eu acharia esse texto piegas se não conhecesse a autora. Mas não, não me é demasiado doce, nem excessivamente rosa. Isso por um motivo simples: cada palavra tem um lastro cravado na experiência de vida da autora. E, como todos que a conhecem, já tive o prazer e o privilégio de desfrutar de sua incomparável gentileza.
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:47
Obrigada, Gilberto, mas vou desmentir você. Aliás, você mesmo já se desmentiu com essa gentileza da mensagem. Grande abraço.
Ivete Flores Catta Preta Ramos.
5 de janeiro de 2018 às 18:54
Obrigada por mais este presente,Deleite p nós teus leitores.o
perfume das tuas mãos generosas,alegrou-me o coração.Tua gentileza e carinho estão eternizada na minha memória. Beijos no coração.
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:46
Ivete, querida, beijos, também. Você estará sempre em meu coração.
Martha Severo
5 de janeiro de 2018 às 20:39
Dra. Francisca, registrou bem o episódio (sobre a sacola que rompeu) que pessoalmente ouvi da senhora há algum tempo. As gentilezas marcam, inclusive a quem escuta as histórias das quais são protagonistas. Um abraço.
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:44
Pois é, Martha, continuo contando minhas histórias, seja escrevendo, seja falando…Rsrs. Obrigada. Um abraço também.
Fernando Rocha Lima
5 de janeiro de 2018 às 21:39
O dom de colocar as palavras é demais. Lindo texto e expressão sobre a simplicidade de ser gentil. Tia chica a melhooorrrr!!!!!!
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:43
Fernandinho. querido, estou com saudades de você. Por onde anda, menino? Obrigada pelo carinho. Beijos.
Maria Hortencia
6 de janeiro de 2018 às 23:52
Crônica é isso, fazer de qualquer tema ou fato corriqueiro poesia. Dessas gostosas de ler e que nos levam a pensar e, muitas vezes, dizer: é exatamente assim que penso, queria ter escrito isso!
Muito bom “ler a Senhora”, Dra Francisca. Uma ótima reflexão para começarmos um novo ano procurando melhorar como pessoa. Ternura, gentileza e atenção com os nossos vizinhos de vida nunca sobram !
Bjs e um 2018 cheio de bençãos e muita inspiração!
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:40
Hortencia, querida, quanto tempo não a vejo. E, agora, você aqui, fazendo esse comentário gentil. Obrigada. Um beijo pra você e para Adaurio. Feliz 2018 para vocês também.
Vânia Rodrigues Calmon
7 de janeiro de 2018 às 15:46
Como disseram: um presente.
A gente lê e fica mais leve. Fica pensando
no prazer das pequenas gentilezas…
Como as que você anda distribuindo com
lápis e papel.
Continue!
mariafrancisca
15 de janeiro de 2018 às 16:37
OI, Vânia. Obrigada pela leitura e pelo gentil comentário. Beijos.
Ricardo
6 de fevereiro de 2018 às 19:43
Excelente! Só não vou elogiar muito para não cair no lugar comum rs
mariafrancisca
8 de fevereiro de 2018 às 14:35
Pois é. Não elogia muito, não. Mas gostei do comentário.
Abraço carinhoso.