LIVRINHO ABUSADO - Maria Francisca

 15 de janeiro de 2017 

 

Livrinho abusado

Hoje, tentando arrumar o cantinho de livros religiosos de minha biblioteca, encontrei este livro muito antigo: “Minutos de Sabedoria”, de C. Torres Pastorinho.  Foi só bater os olhos no tal livro e o túnel do tempo respondeu:  presente!

Era a década de 70. Eu trabalhava no então INPS, que envolvia a área de benefícios previdenciários, arrecadação, pessoal etc.

Fui designada para chefiar o Serviço de Seguros Sociais, setor que cuidava de todos os benefícios previdenciários, inclusive de acidentes do Trabalho.

O serviço era tão volumoso que beirava a desumano. A equipe jovem e sem experiência, inclusive eu. Como lidar com tanto trabalho e ainda ter que orientar a tantos?  Só com muita disposição, trabalho, broncas, jornada excessiva etc.

Naquela época, os universitários poderiam trabalhar em órgãos públicos, numa espécie de estágio, como participantes do Projeto Rondon. E no meu setor de trabalho havia alguns da área de engenharia, sem qualquer experiência administrativa ou social. Inclusive uma moça chilena que nem sequer dominava a língua portuguesa.

Eu passava o dia a ensinar aqui e ali e nem sempre tinha a paciência necessária.

Um dia, já cansada, à beira de um ataque de nervos, chega a chilena e pergunta, com aquele sotaque portunhol:  Dona Franchesca, o que eu coloco na ficha? Era um caso de alta médica e eu disse: Data da cessação do benefício, mas você deve registrar a sigla DCB. Ela, sem saber o que era aquilo, perguntou: É B de burro ou B de bassoura?

Eu expliquei a ela o que era um B e um V em português e, cansada, atordoada, danada da vida de ter que responder até aquilo, abri a gaveta peguei o livro “Minutos de Sabedoria” com o objetivo de ler algo e acalmar-me. Abri aleatoriamente e li, mais ou menos isto: “Não se irrite. Tudo que sabe é dom de Deus. Então, ensine-o a seus semelhantes da melhor forma que souber”.

Fiquei mais danada, ainda, joguei o livrinho dentro da gaveta e comecei outro trabalho, mas ao fim do dia, refleti o que havia lido e contei aos colegas no dia seguinte. Eles riram e o livrinho mudou de nome. Era, agora, o livrinho abusado e todos me pediam, quando estavam cansados. Empreste-me o livrinho abusado…

Anos depois, juíza em Linhares, fui removida para Vitória. Lá, deixei um exemplar do livrinho para o colega que foi me substituir. Ele me ligou depois.

Francisca, você deixou um livro de pensamentos para mim, mas foi só abrir o tal livro e li: “Não julgueis para não serdes julgados”.  Essa é boa, como é que faço, então?

Rimos juntos e contei a ele a história do livrinho abusado…

E, agora, abrindo o livro, leio e registro: “A vida é um canto eterno de beleza”. E acrescento: De aprendizado também.

Que assim seja!

Maria Francisca – janeiro de 2017.

 

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27 comentários

  1. Mais uma excelente historia dentre muitas que ainda virao.Parabéns.


  2. Attilius:Também tenho guardado um exemplar desses. Fica aqui no aparador do quarto de dormir. Ando meio esquecido dele, mas dou uma espiada de vez e quando. ele já me deu ums bons conselhos em momentos de aflição, mesmo que o asunto não era pertinente no momento, oorém tudo se encaixava "no depois". Coisas boas de se lembrar dos tempos de juventude, como suas lembranças saborosas. Você simplesmente desapareceu. Os netos não devem estar lhe dando sossego, né?
    15 de janeiro de 2017 às 16:04

    Também tenho guardado um exemplar desses. O miolo deve estar amarelado pelo tempo. Fica aqui no aparador do quarto de dormir. Ando meio esquecido dele, mas dou uma espiada de vez e quando. ele já me deu uns bons conselhos em momentos de aflição, mesmo que o assunto não era pertinente no momento, porém tudo se encaixava “no depois”. Coisas boas de se lembrar dos tempos de juventude, como suas lembranças saborosas. Você simplesmente desapareceu. Os netos não devem estar lhe dando sossego, né?

    • Não desapareci, não, meu amigo Attilius.
      Apenas estou mais quieta. Você não tem enviado nenhum texto por e-mail, não é?
      Obrigada por estar sempre presente.
      Abraço fraterno.

  3. Oi, Francisca.- Cabeça ruim: fui lhe enviar um comentário e saiu como resposta…. e o blog aceitou. ora essa!!! Coisas de computador.

  4. Excelente!!? trouxe a minha memoria doces momentos: Minha Mae costumava let este precioso livro que mantinha na sua mesinha de cabeceira e,Como VC narrou,os conselhos vinham bem a calhar ?
    Bjus

  5. Texto envolvente sobre esse “livrinho abusado”, tia. Preciso de um pouco dessa sabedoria no meu dia. Beijão!

  6. Ótima crônica, Francisca. Tô precisando de um livro abusado desse. rs


  7. Regina Lúcia Pinto Rangel
    15 de janeiro de 2017 às 19:34

    Boa noite Francisca
    O livrinho abusado não saía da minha bolsa. Vez ou outra eu assisto no YouTube o próprio C. Torres Pastorino. Gosto muito . Recordar é sempre bom ! Você também já passou aperto!…
    Abraços

    • E muito aperto, Regina! Como superar tanto aperto e sendo tão jovem, não é? Só com ajuda desses benditos livrinhos abusados…
      Um abraço, Regina e obrigada.

  8. Francisca: esse livro acompanhou por muito tempo meu dia a dia…grata pela lembrança!!
    abraços carinhosos.

  9. Francisca, acho que já li todo este livros umas 10 vezes. Quando o que lia não me agradava eu mudava de página para ver se amenizava. Era eu enganando a mim mesmo. rsrsrsr

  10. asdf asdf asdf asdf asdf asdf

  11. novoteste novoteste novoteste novoteste novoteste novoteste novoteste

  12. maisumteste maisumteste maisumteste

  13. Adorei! Gosto de crônicas que eu penso que são verdadeiras e não inventadas! Me lembram que a vida alimenta a arte e a arte alimenta a vida!

  14. História interessante e edificante! Fato é que enquanto vivermos estamos apdendendo, e como a Bíblia diz:
    “Se alguém julga saber alguma coisa, ainda não aprendeu como convém saber”.
    (1 Coríntios, 8.2)

  15. Boa tarde!
    Já estive com livro deste na mão e não me lembro de ter lido. Vou comprar um; estou precisando!!

    Em um comentário acima, vi um (teste, e a resposta, asdf) e retornei no tempo: asdfg, çlkjh! minha nossa; que sofrimento! rsrsrs
    Abraços

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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