ACUPUNTURA FAZ SONHAR? - Maria Francisca

 14 de setembro de 2016 

acupuntura

Ganhei uma dor na coluna cervical, que teimo inconscientemente em chamar de coluna vertical, provocando risos.  Então, semanalmente, submeto-me a uma sessão de acupuntura.

Pra você que não conhece acupuntura, explico (como o dr. Google ensina): procedimento que consiste na inserção de pequenas (e finíssimas) agulhas em pontos específicos do corpo, visando ao alívio de dores e outros efeitos locais e sistêmicos.

Pois é, na minha sessão costumeira, já com as agulhas espetadas em braços e pernas, o médico apaga as luzes e deixa-me ali por 25 minutos, com meus pensamentos, minhas angústias e minhas dores. Fecho os olhos e inicio um ritual de inspirar e expirar, para manter a calma e conseguir ficar ali, deitada, quieta, por aquele tempo que parece eterno.

De repente, um coelho de jaleco branco entra na sala, pergunta se está tudo bem e sai. Fico intrigada. Será que entrei no conto de Alice de Lewis Carroll? Resolvo sair dali e encontro o médico (ou o coelho), que me traz de volta para a mesa, e fico quieta, mas tentando me desvencilhar das amarras, ops, das agulhas, tomo uma queda e saio rolando escada abaixo. Chego a um espaço como uma praça bem movimentada, com a placa: Edifício Pedrini. E, detalhe, muitos Pedrinis. Ali, todos são da mesma família Pedrini. Vou abraçando um por um. Edilson Pedrini, competente secretário da Escola Judicial, com quem trabalhei, há muitos anos, quando vice-diretora da daquela escola, é um dos que chegam alegremente para falar comigo. Depois, o dr. Álvaro, também muito sorridente.  A dor não passa e vou andando pela grande praça, por incríveis caminhos enviesados, encontrando mais gente, mais gente, ganhando abraços de uns, beijos de outros, vou em frente, sentindo muitas dores. Meus braços já nem querem mais abraçar, de tanto que dói o esquerdo.

Daí a pouco, o pano cai, reabre, muda a cena. Já estou no tribunal, sentada entre os desembargadores, mas a dor continua ali, incessante. Peço alguém para pedir ao médico do TRT um analgésico específico e continuo na sessão, sofrendo, quando entra o dr. Álvaro Pedrini, gentileza em figura de gente, e diz: Dra. Francisca, esse analgésico é ótimo. Do que a senhora está acostumada a tomar não tenho, mas vai melhorar bem depressa. Prestando atenção no advogado que falava, apenas estendo a mão. Ele não coloca o comprimido. Então, olho para ele e digo: Pode colocar aqui, doutor Álvaro, minha mão está limpinha. Ele sorri (certamente porque sabia que minha mão não estava limpinha, nada, acostumado com os cuidados de UTI), mas coloca ali o remédio e sai. Tomo o analgésico rápido e continuo meu trabalho. Como por milagre, a dor vai passando, passando, até cessar, e a calma começa a reinar.

Acende-se a luz, o médico, dr. José Santo Pedrini, entra e pergunta: Tudo bem? Tudo ótimo, doutor. Sem dor alguma. Vai melhorar ainda mais, responde.

Então, percebi que sonhara. Assim como o remédio do dr. Álvaro Pedrini havia melhorado minha dor, há mais de dez anos (isso não foi sonho, foi  uma lembrança boa que veio naquele leve sono), outro Pedrini, com técnica diversa, mas a mesma competência e cuidado, conseguira aliviar a minha dor.

Não tenho sorte com os Pedrini?

Maria Francisca – setembro de 2016

 

 

 

 

 

 

COMENTE:

2 comentários

  1. Dra Francisca,

    Acabei de ler a crônica ! Estou num misto de orgulho, honra, agradecimento , como que se estivesse também participando daquela sessão ! Nem sei mesmo juntar palavras para dizer a satisfação e sentimento ao ler o texto ! Desnecessário agradecer? Desnecessário dizer que me senti lisonjeado por ser lembrado por alguém que tenho só carinho, agradecimento e admiração ? Muito mais a dizer, mas deixo que o inconsciente da senhora sinta o que senti agora! Então vou apenas dar os parabéns pelo belo texto, que me inspirou imediatamente a uma cena teatral, um esquete, e dizer que foi muito “especial” o que senti ! Palavras não diriam muito. Terei uma linda noite!!! Obrigado de ❤️. Pedrini ( o Edilson da EJUD)

    • Edilson Pedrini, um dos “meus” Pedrinis. Que bom que você gostou. Quero ver essa cena teatral, esse esquete, porque sei que tudo que você faz é bom. Um abraço carinhoso.

Responder


Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


Receba nossas novidades:

Arquivos por mês: