Banho de chuva! - Maria Francisca

 29 de março de 2025 

Agora, como na música de Vanessa da Mata, acabei de tomar um “Banho de chuva, ai, ai, ai, ai, aaaai”.
Acho que todos da minha geração adoravam um banho de chuva. E, de preferência, poder escorregar num morrinho de lama, brincando. As mães: meninas, vocês vão adoecer! Que nada, criança nem liga pra isso. E eu, então, não adoecia nunca.
Mas, hoje, revivi a minha saga infantil.
Choveu bastante pela manhã, mas cessou. Saí para caminhar e vi que o tempo estava se fechando de novo, mas à força da teimosia, segui. Começou uma chuva fininha, foi engrossando, engrossando, e só se viam pessoas correndo, escondendo-se debaixo das barracas, das árvores, e nos módulos da polícia.
Pensei logo na advertência: vou ficar gripada! Que é isso? Gripe é vírus, não desce pelas gotas de chuva…
Teimosa, portanto, e pensando que sou sal grosso, não derreto totalmente, nem liguei para a chuva. Cada vez mais chuva, tanto na ida como na volta.
Fazia muito tempo que não tomava uma chuva tão gostosa. Mas quase derreti…
Quando jovem, praticava corrida de madrugada e não tinha tempo ruim que me segurasse. Nos “Passos de Anchieta”, também, já tomei muitas águas do céu no corpo, nas caminhadas. Vestia uma capa de plástico, mas o vento, inclemente naqueles dias, rasgava tantas quantas eu vestia. Por fim, eu desistia e tomava todas as águas que caiam sobre mim. E eram frias. Águas de junho. E sempre foi muito bom quando chegava lá em Anchieta, vencendo aquele longo percurso a pé e sob intempéries. Belas lembranças.
Hoje, só fiquei com pena dos vendedores, cujas barracas ficaram molhadas, já que não deu tempo de tirar todas as mercadorias. Mal a chuva dava uma trégua, eles corriam para tirar o que sobrou e limpar as barracas.. E sem qualquer mágoa ou tristeza. Ainda brincavam: Uns com os outros: sua barraca foi lavada. Está limpinha…
A chuva cai, vai caindo, vez mais forte. Agora, nada mais escuto, além do barulho da água. Estou ensopada. Caminho, caminho…Nem presto atenção em mais nada.
Ufa! cheguei ao meu prédio. Tive que tirar o tênis antes de entrar e pedir ao faxineiro um pano para tentar enxugar os pés, pelo menos, porque a roupa do corpo pingava para todos os lados.
Em casa, senti a minha catarse. Parecia que toda sujeira de minha alma, do meu corpo e as tristezas do meu coração tinham sido lavadas.
Leve, leve…
Maria Francisca -3 de março de 2025.

 

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4 comentários

  1. Adora suas histórias reais! Parece até que eu estava na chuva com você, de tão real as palavras. Gosto demais dessas suas narrativas. Parabéns. Um.beijo.


  2. Adriana Zuccolotto Chagas
    2 de abril de 2025 às 17:35

    Francisca, lendo sua publicação me vi na mesma situação em Janeiro. Também com a mesma sentimento de alma lavada. Acho que banho de chuva é igual a chuva de bençãos que é igual a banho de mar.

    • Querida amiga, você sentiu, e é isso mesmo. Banho de chuva é uma chuva de bênçãos, falou bem. Obrigada pela leitura e pelo comentário. Beijos.

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Maria Francisca Lacerda
Poeta e escritora.
Espírito Santo - Brasil.


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