Não sei se falo ou se calo.
A indecisão me maltrata
Em meio à noite resvalo
Calar é ouro, falar é prata.
(Indecisão. “Sal, pimenta e ternura”)
Se nossas escolhas se limitassem no falar ou calar, como na estrofe do poema em referência, tudo seria muito fácil. Mas, na vida, há questões que causam até síndrome do pânico.
“Um dia é um tribunal incansável de decisões. A liberdade é uma condição dos humanos. Escolhemos sempre. Das questões mais distraídas aos assuntos que decidem vidas. Um médico escolhe o melhor tratamento. Um juiz escolhe os argumentos que fundamentarão sua decisão. Um motorista escolhe o caminho, e um padeiro o jeito de fazer o pão e alimentar. Um político escolhe entrar ou não em guerra. Mandela escolheu não revidar. Escolheu pacificar”. Disse Gabriel Chalita, no discurso de posse no PEN Clube do Brasil.
Sim. Uma das questões que sempre corroeram a nossa mente foi a indecisão. Quem deixou de fazer algo, com medo de não dar certo e ficou pensando depois: eu deveria ter feito isso e aquilo. E se tivesse sido assim?
Diz Natalia Ginzburg, citada por Julián Fuks, que o traço característico dos jovens, hoje, é a indecisão. E atribui esse estado de coisas aos pais, por não transmitirem firmeza aos filhos. Será?
Na escolha do curso superior, os jovens sofrem. Hoje, com algumas profissões em decadência, está cada vez mais difícil sentir firmeza na escolha. Escolho hoje, faço o curso que está em alta para empregos. Termino o curso e eis a profissão “engolida” por outra…
Suassuna, numa aula magna em evento de juristas, disse que escolheu fazer Direito, sem ter a mínima vocação, porque, na sua época, era difícil. Teria que estudar Direito, Medicina ou Engenharia. Era o que existia. E ele não tinha aptidão para nenhum dos cursos. Então, optou por Direito.
E assim costuma ser: Ou se estuda o que se tem, ou fica sem estudar. Seja por falta de oportunidade, seja por ausência de aptidão. Até saber qual a aptidão, é uma indecisão atrás da outra.
Eu sempre digo que, quanto a profissões, não fiz escolhas. Fui escolhida, sempre, mas é certo que as oportunidades surgiram e eu as acolhi. Então, se era aquilo ou ficar no marasmo, preferi seguir o que se apresentou.
Quando estamos em dúvida sobre dois caminhos a seguir, tememos perder, de acordo com a escolha. Ainda que fosse para querer tudo, ou não querer nada, haveria escolha. E sempre perdemos uma das opções.
Certa vez fiquei numa batalha para saber o que fazer. Trabalhava oito horas diárias, e fui convocada para um curso fora da cidade. Mas eu estudava. Se perdesse duas semanas de aula, perderia duas matérias, porque a matrícula era por disciplina e cada matéria durava uma semana inteira.
Conversei com o psicólogo da Faculdade. Ele, calmamente, me disse: Você terá que optar. Não tem como fazer as duas coisas, tem? Opção é isto: você sempre ganha algo e perde algo. Não se pode ter tudo na vida. Só não vai chorar depois…arrematou.
Aprendi. Em seguida, senti-me envergonhada da pergunta idiota.
Dúvidas também têm escritores com obrigação diária com textos para publicação, contam: muitas vezes, olham a tela do computador e ficam ali, olhando, olhando, sem saber o que escrever. Isto ou aquilo. Pior é quando nada aparece no intelecto. Julián Fuks confessa: Passo horas lendo distraídas mesquinharias e, quando por fim me sento para escrever, quando enfim me ponho a explorar profundezas, a superfície intocada da página só me devolve desdém.
Sir Henry Cole (interpretado por Patrick Stewart) no filme “A última nota”, à pergunta: “Qual seria a sua vida se tivesse feito outras escolhas? Respondeu: “Não seria minha vida!”
Quem dera todos pudéssemos realizar escolhas tão certeiras!
Mas para nós, pobres mortais, restam escolhas, por simples que seja o caminho a seguir.
E vamos em frente, pensando, como Cecília Meireles: “Ou isto ou aquilo”?
Maria Francisca – maio de 2023.
Euler oliveira
23 de agosto de 2023 às 11:48
Me fez relembrar as muitas escolhas que fiz, umas certas outras nem tanto. Aprendi com todas e sigo aprendendo.
Parabéns
mariafrancisca
23 de agosto de 2023 às 18:08
É, meu amigo, a vida está sempe nos impondo escolhas. Como saberemos se são boas ou ruins? É um aprendizado a cada dia.
Grande abraço e grata pelo comentário.
Edson Lopes
24 de agosto de 2023 às 19:27
Essas missas escolhas nem sempre são a que queríamos na verdade. Queria saber quem inventou esse dia de Livre Arbítrio!!!!! kkkkk O que admiro em você é isso, mesmo não sendo o que você queria, voce fez otimamente todas elas. Sou seu grande admirador.
mariafrancisca
25 de agosto de 2023 às 12:28
Pois é, caro amigo Edson, nem sempre conseguimos escolher bem, mas sempre aprendemos, mesmo com as escolhas erradas. Fui seguindo a vida e agradecendo mesmo quando não dava certo. Grande abraço e obrigada pela gentileza e pela generosidade de sempre.